A recente queda da ponte sobre o Rio Autaz-Mirim, localizada na BR-319, levanta sérias questões sobre a segurança das infraestruturas no Brasil. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) classificou a ponte como “boa” em uma avaliação realizada um ano antes de seu desabamento, o que deixou a população perplexa e questionando a eficácia das inspeções realizadas pelo órgão federal.
A avaliação do Dnit e a surpresa do colapso
O laudo enviado ao site Metrópoles através da Lei de Acesso à Informação (LAI) revelou que a estrutura recebeu a nota quatro em uma escala de cinco, o que indica a existência de “alguns danos” sem sinais de insuficiência estrutural. A Portaria nº 10/2024 do Dnit descreve essa classificação como apropriada para estruturas que ainda não demandam intervenções urgentes.
Contudo, essa percepção foi rapidamente desfalcada pela realidade, já que a ponte colapsou em novembro de 2022. Felizmente, não houve vítimas fatais, pois a estrutura já estava interditada na época do incidente devido à queda da ponte vizinha sobre o Rio Curuçá, situada apenas a um quilômetro de distância.
Consequências diretas para a população local
A queda das pontes no Amazonas afetou diretamente a mobilidade dos moradores e comerciantes da região. A travessia que antes era feita em veículos agora é realizada por barcos, aumentando o tempo e a dificuldade dos deslocamentos diários. A situação é ainda mais crítica para aqueles que dependem do transporte público, que se vê obrigado a enfrentar longas filas para conseguir a travessia, complicando o acesso a serviços essenciais.
As imagens da travessia improvisada mostram passageiros de ônibus desembarcando para seguir viagem por barco, retratando um cenário de incerteza e desamparo. Para muitos, essa nova realidade é sinônimo de maiores dificuldades e perdas financeiras.
Deficiência nas vistorias e inspeções do Dnit
Vários insiders afirmam que a frequência das vistorias nas infraestruturas está aquém do desejado. Atualmente, o Dnit enfrenta um déficit de 45% de analistas técnicos em infraestrutura, com apenas 533 dos 982 profissionais necessários atuando em suas funções. Este cenário se reflete diretamente na rapidez e qualidade das inspeções, aumentando o risco de outras estruturas similares não serem devidamente monitoradas.
O órgão realiza vistorias a cada dois anos em pontes, túneis e viadutos, no entanto, as recentes ocorrências levantam um alerta sobre a eficácia desse cronograma, que parece não ser suficiente para garantir a segurança dos usuários das rodovias federais brasileiras.
A situação crítica da ponte do Curuçá
Com o colapso da ponte do Curuçá, que era classificada como “regular” (categoria três), os desafios aumentam. A estrutura apresentava insuficiências que, embora não comprometesssem sua estabilidade, indicavam a necessidade de reformas. O fato de que essa ponte, cerca de um ano depois da avaliação favorável da ponte do Autaz-Mirim, resultou em tragédia com cinco mortes, transforma o tema em um clamor por maior atenção e agilidade nos processos de inspeção e reparo das infraestruturas brasileiras.
Na quarta-feira (13/8), o Metrópoles lança a reportagem especial intitulada “Um Brasil que desmorona”, que expõe os impactos do desmoronamento de pontes em diferentes estados, como Amazonas, Maranhão, Rio Grande do Sul e Tocantins, ressaltando a urgência de ações efetivas para recuperar a confiança da população nas estruturas públicas.
A segurança nas estradas e pontes do Brasil deve ser uma prioridade não apenas através de avaliações periódicas, mas também por meio de investimentos consistentes na manutenção e reconstrução de obras que são fundamentais para a mobilidade das pessoas e para a economia do país. A comunidade espera que episódios como esses sirvam como experiência e aprendizado, impulsionando melhorias significativas na infraestrutura nacional.