No cenário atual do jornalismo, a série de reportagens publicada pelo GLOBO, que traz imagens inéditas de povos indígenas isolados na Amazônia, conquistou o primeiro lugar na 14ª edição do Prêmio GDA de Jornalismo, realizado em 2025. Com o título “Uma expedição ao coração da Amazônia para revelar povos isolados, até então invisíveis ao mundo”, essa série, veiculada em dezembro de 2024, foi laureada na categoria “Reportagem noticiosa ou investigativa”. O prêmio, promovido pelo Grupo de Diários América (GDA), reúne os principais jornais da América Latina e reconhece o trabalho de jornalistas comprometidos com a verdade e a relevância social.
A jornada até as comunidades invisíveis
As reportagens foram elaboradas por Daniel Biasetto, em colaboração com o jornalista John Reid, do renomado The Guardian. Juntos, eles acompanharam expedições da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), focadas na pesquisa e proteção de comunidades isoladas na Amazônia. Durante essa jornada, os repórteres percorreram mais de cem quilômetros na densa selva amazônica, usando tecnologia inovadora para documentar a vida desses grupos vulneráveis.
Registros inéditos
Utilizando câmeras automáticas instaladas por meio da Funai, a equipe de reportagem conseguiu capturar imagens de uma etnia nunca antes vista, no território indígena Massaco, que se localiza na reserva do Guaporé, em Rondônia. Além disso, a pesquisa confirmou a presença do povo isolado Kawahiva em uma área não demarcada no Mato Grosso, oferecendo uma visão detalhada sobre as estratégias de sobrevivência adotadas por essas comunidades.
A investigação revelada pelo GLOBO e pelo The Guardian também abordou os riscos enfrentados por esses povos isolados diante da expansão da fronteira agrícola, das atividades ilegais de grileiros e madeireiros nas proximidades de suas terras. Os repórteres, que se dedicaram por cinco meses a compreender o contexto histórico e atual dos territórios Kawahiva e Massaco, ressaltaram tanto os avanços das políticas de proteção a esta população, como a realidade desafiadora que os agentes da Funai enfrentam por conta da pressão de invasores potenciais.
Importância da tecnologia na proteção
“Esta investigação mostrou que a política de não contato da Funai funciona, já que há sinais de que esses povos estão prosperando. E que o uso da tecnologia é fundamental nesse modelo único de protegê-los sem fazer contato”, destacou Biasetto. Os relatos incluem a importância da divulgação dessas imagens para reforçar a política de proteção e a urgência na demarcação dessas terras, que é vital para a sobrevivência dos povos isolados.
Política de não contato da Funai
A atual política de não contato da Funai, que tem suas raízes na década de 1980 para evitar doenças e fatalidades, teve o território Massaco como um modelo pioneiro, sendo o primeiro a ser protegido exclusivamente para populações isoladas. Após a publicação das reportagens, o governo Lula anunciou a intenção de concluir a demarcação das terras Kawahiva até 2025, um compromisso que ainda não foi concretizado.
A realidade das comunidades isoladas no Brasil
Atualmente, o Brasil reconhece 29 comunidades isoladas, confirmadas pela Funai, mas há relatos sobre outras 85 que aguardam atravessar o processo burocrático necessário para sua confirmação oficial. Isso evidencia a importância contínua da investigação e do jornalismo na preservação dos direitos desses grupos.
Além do prêmio na categoria de “Reportagem noticiosa ou investigativa”, o GLOBO também recebeu uma menção honrosa na categoria “Jornalismo de Tecnologia”, por outra matéria que aborda limitações nas ferramentas de inteligência artificial. O reconhecimento reflete o compromisso da redação com temas atuais e de grande relevância social.
Os prêmios serão entregues em uma cerimônia marcada para o dia 9 de outubro, em Miami, nos Estados Unidos. Este evento destaca a importância da união e cooperação entre meios de comunicação latino-americanos ao abordarem questões tão críticas como a proteção dos povos indígenas.
Em um momento em que a Amazônia e seus povos enfrentam ameaças crescentes, a cobertura jornalística se torna não apenas uma ferramenta de informação, mas um ato de resistência, destacando a necessidade urgente por proteção e respeito aos direitos humanos.