O novo acordo de receita com exportações de chips firmado entre o governo dos EUA e Nvidia e AMD indica uma mudança significativa na política comercial americana, podendo abrir caminho a um “capitalismo de compadrio” e gerar tensões internas e internacionais, segundo analistas consultados.
Regras inéditas na exportação de chips para a China
Segundo o Financial Times, Nvidia e AMD concordaram em pagar ao governo dos EUA 15% da receita obtida com vendas de certos chips na China. Os produtos envolvidos, como o acelerador de IA H20 da Nvidia e os chips MI308 da AMD, tiveram suas vendas anteriormente proibidas pelo governo Trump, que exigia licenças específicas para exportação.
Implicações do acordo e críticas de especialistas
Analistas alertam que a assinatura de um pacto semelhante aos tradicionais, no qual empresas pagam ao governo por autorização para exportar, representa uma mudança drástica na atuação do Estado na economia americana.
Scott Kennedy, conselheiro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, afirma que “isso constitui uma grande mudança na forma como a economia dos EUA deveria funcionar”. Ele acrescenta que, sem a devida supervisão, essa prática pode levar a um “estado de capitalismo de compadrio”, fenômeno que beneficia apenas alguns poucos.
Especialistas também apontam que esse modelo pode enfrentar obstáculos legais, pois a Constituição dos EUA proíbe impostos de exportação disfarçados de taxas. Além disso, há preocupações de que a política possa gerar tensões com outros países, sobretudo a China, que já se mostra cada vez mais hostil às restrições americanas sobre seus chips de IA.
Frente de disputa entre EUA, China e o papel das empresas americanas
O conflito central envolve a disputa pelo domínio de tecnologias futuras, como inteligência artificial e automação. Os EUA restrição de vendas de chips avançados para a China, que por sua vez busca alternativas para continuar produzindo esses componentes, muitas vezes usando tecnologias americanas.
Pela primeira vez, a Casa Branca parece explorar uma estratégia de monetização do comércio, permitindo que empresas como Nvidia e AMD operem mediante pagamento direto ao governo, o que aumenta o risco de distorções econômicas e políticas.
Impacto nas relações comerciais e futuros desdobramentos
Governos aliados, como Japão, Coreia do Sul e União Europeia, prometeram investir bilhões de dólares nas suas próprias economias como contrapartida à redução de tarifas de importação, que ficou significativamente mais baixa do que no Brasil (50%) ou Canadá (35%).
De acordo com Debbie Elms, chefe de política comercial da Fundação Hinrich, essa dinâmica pode abrir precedentes internacionais, com o governo estadunidense potencialmente mirando outros setores e produtos sob a mesma lógica de receita direta.
Contudo, há dúvidas quanto à legalidade dessas práticas, já que a própria Constituição americana poderia interpretar essas taxas como um imposto de exportação proibido por lei, criando um cenário de incerteza jurídica e riscos à estabilidade econômica.
Perspectivas e riscos futuros
Enquanto o acordo favorece a obtenção de recursos pelo governo, ele também pode aprofundar a polarização política interna e criar um cenário de “capitalismo de compadrio”, onde interesses de empresas e do Estado se entrelaçam de forma pouco transparente.
Expert em comércio internacional, Stephen Olson destaca que “o que estamos vendo é, de fato, a monetização da política comercial dos EUA”. A estratégia revela uma mudança profunda na gestão das relações econômicas do país, com potenciais repercussões globais.
Na prática, a iniciativa pode tanto estimular o mercado de tecnologia quanto gerar um ambiente de instabilidade, deixou claro a análise de especialistas.