Brasil, 11 de agosto de 2025
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Sistema indiano UPI evita escrutínio dos EUA, ao contrário do Pix brasileiro

India's UPI, sistema de pagamentos criado antes do Pix, permanece fora da atenção protecionista dos Estados Unidos, enquanto o brasileiro é investigado.

O sistema de pagamentos instantâneos da Índia, o Unified Payments Interface (UPI), foi lançado em 2016, quatro anos antes do Pix brasileiro, e até hoje escapa do foco do protecionismo dos Estados Unidos. Em contraste, o Pix tem sido alvo de uma investigação comercial aberta pelo governo americano desde julho deste ano, que o classifica de forma indireta como uma prática “desleal”.

Origem e características do UPI na Índia

Desenvolvido pelo consórcio NPCI, sob coordenação do Banco Central da Índia, o UPI é um sistema de pagamentos instantâneos que permite transferências e compras 24 horas por dia, sem custos e sem necessidade de fornecer dados bancários tradicionais, como número da conta ou agência. A iniciativa integrou o projeto India Stack, que promoveu digitalização ampla no país, incluindo RG digital e desmonetização de dinheiro físico.

Hoje, cerca de 500 milhões de indianos usam o UPI, que responde por 83% das transações digitais na Índia, com mais de 18 bilhões de operações mensais, conforme dados do Banco Central do país, divulgados em janeiro.

Inovações trazidas pelo UPI

Por ter sido pioneiro, o UPI experimentou recursos que ainda não estão disponíveis no Brasil, como pagamentos offline — útil em zonas rurais com má conexão à internet — e pagamentos por comando de voz. Além disso, o sistema possui expansão internacional, sendo acessível em países como Butão, Nepal, Cingapura, Emirados Árabes e França, resultado de acordos bilaterais.

O primeiro-ministro Narendra Modi chegou a mencionar a intenção de ampliar o UPI pelos países do Brics, uma estratégia que, segundo especialistas, pode fortalecer sua influência internacional e desafiar o sistema Swift, usado atualmente para transações financeiras globais.

Internacionalização e produtos associados

Outra inovação indiana é o cartão de crédito RuPay, desenvolvido pelo mesmo consórcio do UPI, que compete com Visa e Mastercard, e recentemente foi integrado ao sistema de pagamento nacional. Apesar de o Banco Central do Brasil ter mencionado a possibilidade de internacionalizar o Pix, essa iniciativa ainda não se concretizou formalmente; operações no exterior, como na Argentina e Paraguai, acontecem de modo privado.

Modelos de implementação e impacto no mercado

Enquanto o Pix foi criado inteiramente pelo Banco Central do Brasil, com forte participação da autoridade monetária na definição do sistema, no caso da Índia, a implementação do UPI ocorreu sob uma parceria público-privada supervisionada pelo Banco Central. Essa diferença contribuiu para uma adoção mais rápida e abrangente do sistema brasileiro, que atingiu quase 74% da população em três anos e continua sendo destaque mundial.

O modelo indiano, por sua vez, permite maior protagonismo de grandes empresas de tecnologia, incluindo Google e Walmart, que dominam mais de 80% das transações com UPI por meio de plataformas como Google Pay e PhonePe. No Brasil, a arquitetura layer que envolve bancos e fintechs promove maior controle do setor financeiro doméstico, embora isso tenha dificultado a entrada de gigantes internacionais no mercado de pagamentos instantâneos.

Pix na mira do protecionismo americano

Desde julho, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) tem considerado o Pix uma potencial prática comercial “desleal”, alegando que um sistema de pagamento desenvolvido pelo governo brasileiro pode prejudicar empresas americanas do setor. A investigação ainda está em andamento, enquanto o UPI evita esse tipo de escrutínio, permanecendo fora do foco do protecionismo.

Especialistas como Thiago Aragão avaliam que grandes empresas de tecnologia dos EUA, como Google e Facebook (via WhatsApp), observam com atenção o desdobramento da investigação contra o Brasil, pois o mercado brasileiro é estratégico para elas, e há receios sobre possíveis obstáculos à entrada ou expansão por meio do sistema nacional.

Razões por trás do foco diferenciado

O sucesso e a abrangência do Pix, que rapidamente atingiu quase 74% da população, decorrem do controle centralizado empregado pelo Banco Central, que obrigou a adesão obrigatória de instituições com mais de 500 mil contas. No caso do UPI, a participação voluntária do setor privado e a maior influência de multinacionais explicam, em parte, sua menor penetração relativa.

Essa configuração favorece o protagonismo de big techs, que processam as transações do UPI, enquanto no Brasil o sistema é mais internalizado e controlado pelo Estado, protegendo o mercado doméstico de possíveis ameaças externas, especialmente de empresas estrangeiras.

Consequências e estratégias futuras

Enquanto o UPI permanece fora das tensões comerciais dos EUA, o Pix se tornou uma referência global, inspirando sistemas em países como Colômbia e Argentina. A discussão sobre a internacionalização do sistema brasileiro ainda está em estágio inicial, mas há planos de ampliar sua atuação internacional, potencialmente criando um padrão brasileiro para pagamentos digitais no cenário global.

A investigação americana, por sua vez, reforça o protagonismo do fortalecimento do ecossistema financeiro doméstico frente às pressões internacionais, além de sinalizar um possível aumento nas disputas comerciais envolvendo os sistemas de pagamento digital.

Segundo analistas, a disputa em torno do Pix revela também os interesses estratégicos das grandes empresas de tecnologia, que buscam consolidar sua atuação, enquanto o governo brasileiro busca equilibrar inovação e proteção do mercado local.

Para saber mais, acesse o artigo completo em G1 – O que sucesso do Pix na Índia revela sobre ofensiva de Trump contra o Pix brasileiro.

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