Rodovias da morte no Piauí

Foram 860 acidentes com vítimas nas duas BR's que cortam o estado

No calor escaldante do Piauí, onde o horizonte seco parece interminável, a BR-343 corta o estado como uma cicatriz. O asfalto quente não só reflete o sol abrasador, mas também as tristes estatísticas que fazem dessa estrada uma das mais perigosas do Nordeste. Em 2023, foram registrados 595 acidentes nesta rodovia, colocando-a na oitava posição entre as mais violentas da região. Mais ao sul, a BR-316, que liga cidades do interior, também entra nesse trágico ranking, com 416 acidentes — uma verdadeira roleta russa em que os motoristas jogam suas vidas a cada ultrapassagem.

Dirigir nas rodovias federais do Piauí, ao que parece, tornou-se uma espécie de esporte radical. Aqui, não é o cenário árido ou a beleza natural que chamam atenção. São as ultrapassagens indevidas, as motos cortando o vento sem capacete, e os motoristas que desafiam as estatísticas, jogando contra a própria sorte. Não é difícil perceber por que tantas famílias terminam suas viagens na beira da estrada, sob o olhar triste de testemunhas impotentes.

Um teatro de horrores

Motociclistas são as maiores vítimas dos acidentes

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2023, o Nordeste somou 14.609 acidentes nas rodovias federais. O dado mais estarrecedor? 84% desses acidentes resultaram em vítimas. E no Piauí, o enredo trágico se repetiu: na BR-343, foram 503 acidentes com vítimas; na BR-316, outros 357. Entre Teresina e Piracuruca, no trecho mais mortífero da BR-343, 18 acidentes graves e quatro mortes foram registrados em apenas 15 dias de agosto de 2024. A cada quilômetro, parece que a estrada sussurra mais um número à estatística da morte.

Mas será mesmo a estrada a grande vilã? Ou estamos diante de um cenário onde a imprudência humana se une ao descaso público, criando uma combinação letal? A Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que 28% das rodovias no Nordeste são classificadas como péssimas ou ruins. E a BR-343, com seus buracos traiçoeiros e curvas perigosas, certamente contribui para o drama. No entanto, a PRF alerta: não são só as condições da via que matam. Ultrapassagens em locais proibidos, motoristas sem habilitação e motociclistas sem capacete fazem parte do espetáculo macabro que se desenrola diariamente.

O silêncio das autoridades e o custo da negligência

Em meio ao caos do trânsito, o que se vê é um silêncio ensurdecedor das autoridades. Enquanto as estatísticas se acumulam, o governo parece fechar os olhos para as rodovias que mais se assemelham a pistas de corrida descontrolada. A falta de manutenção das estradas reflete a ausência de uma política séria de prevenção de acidentes. A fiscalização, quando existe, é ineficaz, e as campanhas educativas são raras como água no sertão.

Na prática, dirigir em uma rodovia como a BR-343 é um exercício de sobrevivência. Os motoristas enfrentam um campo minado de buracos e trechos mal sinalizados, além de serem obrigados a conviver com a imprudência dos colegas de estrada. Uma simples viagem de Teresina a Piracuruca, um percurso que deveria ser tranquilo, pode se transformar em uma corrida mortal, onde o destino final nem sempre é garantido.

A cada batida, a cada corpo jogado à margem da estrada, é possível sentir o peso do descaso. O Piauí, conhecido por sua hospitalidade e belezas naturais, agora estampa manchetes sangrentas sobre rodovias que ceifam vidas diariamente. Não bastasse a infraestrutura precária, a falta de responsabilidade de quem está ao volante agrava ainda mais a situação. Para muitos, dirigir aqui é apostar num futuro incerto.

Uma solução longínqua?

O problema das “rodovias da morte” no Piauí não será resolvido apenas com asfalto novo. A questão é mais profunda e complexa. Precisamos, sim, de estradas bem conservadas, com boa sinalização e segurança. Mas de que adianta uma rodovia perfeita se os motoristas continuarem desrespeitando as leis, ultrapassando em curvas e ignorando os limites de velocidade?

A PRF já alertou que muitos desses acidentes poderiam ser evitados com um mínimo de atenção e respeito às normas de trânsito. Mas, ao que parece, essas regras são encaradas como sugestões, e não obrigações. No Piauí, dirigir sem habilitação é quase corriqueiro, e as motos, muitas vezes pilotadas por adolescentes sem capacete, tornam-se armas mortais. A falta de fiscalização eficiente, por sua vez, só contribui para que esse ciclo de tragédias se perpetue.

O preço de viver à beira do abismo

As BR’s que cortam o Piauí estão entre as mais violentas do Brasil

Em 2024, no Piauí, dirigir é enfrentar a morte a cada curva, a cada ultrapassagem. E, enquanto nada muda, as famílias seguem arriscando suas vidas. Para quem cruza as rodovias BR-343 e BR-316, a paisagem pode parecer tranquila, mas o perigo está sempre à espreita, seja em um motorista apressado, uma ultrapassagem imprudente ou um buraco traiçoeiro. O futuro? Se algo não mudar, continuaremos liderando rankings que ninguém gostaria de encabeçar.

As rodovias da morte seguem sendo palco de tragédias evitáveis, enquanto o Piauí, com suas belezas naturais e seu povo acolhedor, se vê refém de uma mistura letal de imprudência e abandono. Para quem se arrisca a dirigir nessas estradas, o único conselho possível é simples, mas amargo: dirija com cuidado, porque aqui, a morte viaja sempre ao seu lado.

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