Em 13 de junho de 1976, um feito raro no futebol brasileiro teve como palco o estádio Santa Cruz, em Ribeirão Preto. O Botafogo-SP protagonizou uma das maiores goleadas de sua história, derrotando a Portuguesa Santista por incríveis 10 a 0. Para muitos, essa data é um marco que vai além dos números em campo; é uma recordação vívida de momentos de alegria, paixão e, acima de tudo, de ligação familiar.
Um dia que ficará para sempre na memória
Era um domingo ensolarado, e a presença do astro Sócrates, que balançou as redes com sete gols naquela partida, fez com que todos na arquibancada vivessem a emoção da vitória. Para muitos, como eu, que tinha apenas oito anos na época, acompanhar uma partida do Botafogo com a família se tornou um ritual sagrado. Em tardes quentes de domingo e noites de quarta-feira, eu e meu pai estávamos sempre juntos, torcendo pelo nosso time.
O ambiente do estádio Santa Cruz: nostalgia e tradição
Naquele tempo, o Santa Cruz não tinha o glamour das atuais arenas. Era um estádio simples, mas acolhedor, onde as famílias se reuniam para vivenciar o futebol de maneira pura. O cheiro da cerveja gelada, que era permitida nas arquibancadas, e o calor intenso do sol ribeirão-pretano tornavam a experiência ainda mais marcante. As crianças vestiam com orgulho as camisas do Botafogo, criando uma atmosfera vibrante que contrastava com a realidade atual dos estádios. Os pais assistiam ao jogo ao lado de seus filhos, criando memórias que certamente seriam passadas de geração para geração.
Os personagens da nossa história
Entre os muitos personagens que passaram pelo Botafogo-SP, havia figuras ímpares como o goleiro Aguillera e o talentoso Zé Mário. Mas era o Dr. Sócrates que realmente deixava sua marca, tanto dentro quanto fora de campo. A sua postura ímpar e habilidade com a bola foram tão marcantes quanto suas opiniões polêmicas e sua dedicação à medicina. Estar na arquibancada e ver esses jogadores em ação era uma experiência que transcendeu o simples ato de assistir a um jogo de futebol.
Um legado que ficou
A história de meu pai com o clube era mais do que apenas assistir aos jogos. Ele conhecia todos os membros da diretoria e era respeitado por funcionários e jogadores. Seu papel como mentor para futuros jogadores, como o jovem Sócrates, mostrava a profundidade de sua relação com o time. Era uma época em que as relações eram mais diretas e pessoais, o que tornava a experiência ainda mais especial.
Pontos altos e baixos do futebol
Claro, nem tudo eram flores; jogos como o famoso 10 a 0 também vinham acompanhados de tensão. Um episódio que ficou em minha memória foi quando o árbitro Dulcídio Boschilia foi confrontado pela torcida após uma partida polêmica. A paixão do público muitas vezes ultrapassava o limite, e as lembranças dessas situações foram um lembrete de que o futebol é, antes de tudo, uma batalha emocional.
Saudade e reflexões
Infelizmente, o tempo passou e, em 15 de agosto, completaremos 15 anos da partida do meu pai. Ele sempre esteve ao meu lado nas arquibancadas, e a memória da sua mão apertando a minha durante aquele 10 a 0 continua fresca em minha mente. Ao refletir sobre esses momentos, percebo que o verdadeiro lucro do futebol não está apenas nas vitórias ou nas derrotas, mas nas conexões humanas que ele promove.
Hoje, quando vejo o Botafogo-SP em campo, sinto uma mistura de orgulho e saudade. A história que vivi ao lado do meu pai é um legado que levo comigo, um testemunho da importância do futebol em unir pessoas e criar memórias que perduram por toda a vida.