As ruas de Teresina, que durante anos testemunharam o caminhar sereno de Firmino Filho, hoje sussurram o seu nome com saudade. Desde sua morte em abril de 2021, a cidade ainda sente a ausência daquele que foi prefeito por quatro mandatos e moldou a política local com mãos firmes e gestos calculados. As eleições municipais de 2024, no entanto, trazem uma questão que reverbera entre aliados, adversários e eleitores: de que lado Firmino Filho estaria neste momento crucial?
Fragmentação de um grupo político
Firmino construiu um legado de hegemonia tucana em Teresina, fazendo do PSDB uma força dominante na capital do Piauí. Por mais de duas décadas, ele representou um estilo administrativo que buscava eficiência e proximidade com a população. Contudo, o que parecia um domínio inabalável começou a desmoronar após sua morte. Antigos aliados se dispersaram, e o grupo que um dia marchou unido sob sua liderança agora se vê dividido entre três principais candidatos à prefeitura em 2024: Silvio Mendes (União Brasil), Fábio Novo (PT) e o atual prefeito Dr. Pessoa (PRD).
Silvio Mendes, ex-prefeito e amigo de longa data, surgia como o herdeiro natural do legado de Firmino. Juntos, eles compartilharam visões de modernização e crescimento para a cidade. O que Mendes representaria seria a continuidade de uma política que prioriza a gestão eficiente, mas em um cenário de alianças voláteis e partidos fragmentados.
Já Fábio Novo, adversário histórico do PSDB na capital, se posiciona tentando mostrar uma face de uma esquerda renovada, que busca ocupar o espaço deixado vago pela morte de Firmino.
Dr. Pessoa, por sua vez, carrega o fato de ter derrotado o grupo tucano em 2020, mas, com um detalhe, os dois mantinham uma relação amistosa, ao ponto de Firmino Filho o elogiar na véspera do confronto de 2020.
E assim, surge a dúvida: se Firmino estivesse vivo, em qual desses lados ele estaria? Silvio Mendes, o aliado próximo que compartilhou anos de administração? Ou, diante de uma nova conjuntura, Firmino se reinventaria, construindo pontes onde antes havia muros?
Uma herança disputada
Firmino Filho não era apenas um político, era um símbolo. A Teresina que ele governou passou por profundas transformações urbanas e sociais. Sua visão de cidade moderna, focada na infraestrutura e no desenvolvimento sustentável, fez com que seu nome se tornasse sinônimo de progresso. Entretanto, o que resta de seu grupo político após sua partida é uma colcha de retalhos, com antigas lideranças buscando caminhos distintos.
Um exemplo dessa dispersão está na própria família de Firmino. Lucy Soares, sua viúva, teve uma carreira política ascendente, mas os rumos que tomou após a morte do marido mostram que até mesmo a unidade familiar foi afetada. Onde antes havia uma coesão em torno de Firmino, hoje há escolhas políticas distintas, refletindo a fragmentação que também ocorre entre seus ex-aliados.
Firmino e os novos rumos de Teresina
Firmino Filho não era de gestos precipitados. Seu pragmatismo e visão estratégica faziam dele um político que sabia escolher suas batalhas e alianças. Se estivesse vivo, Firmino certamente estaria analisando o cenário político de 2024 com cautela, calculando os passos que o levariam a manter sua influência sobre a cidade que tanto amava.
Olhando para o passado, Firmino sempre se manteve fiel à sua visão de um projeto para Teresina. Talvez ele apoiasse Silvio Mendes, por lealdade e afinidade de ideias. Contudo, as dinâmicas políticas que se desenharam desde sua morte, com o enfraquecimento do PSDB e a ascensão de novos nomes, sugerem que ele poderia, também, buscar caminhos inusitados, quem sabe até se aliando a antigos adversários, caso isso garantisse a continuidade de suas políticas para a cidade.
Em suma, a questão central para as eleições de 2024 é: que caminho Teresina escolherá? E mais, que lições do passado recente de Firmino Filho moldarão esse futuro? As urnas responderão, mas a memória de Firmino, essa, continuará viva, influenciando decisões e criando expectativas em torno de um legado que ainda não foi completamente definido.
Declarações de Firmino Filho revelam maior proximidade com Dr. Pessoa do que com Fábio Novo
As declarações ao longo dos anos revelam nuances importantes nas relações entre Firmino Filho, Fábio Novo e Dr. Pessoa, evidenciando divergências políticas e pessoais que marcaram a cena política de Teresina.
Em dezembro de 2011, Fábio Novo criticou abertamente Firmino Filho, afirmando: “Eu me lembro bem, como jornalista e agora como deputado, que nesta casa, na gestão Firmino Filho, requerimentos da oposição sequer eram aprovados. Então isso sim é arrogância e prepotência.” Nesta declaração, Fábio Novo destacou o que considerava ser uma falta de abertura ao diálogo e uma postura autoritária por parte de Firmino, ressaltando a dificuldade que a oposição enfrentava para ter voz durante a gestão tucana.
Ainda no campo educacional, Fábio Novo questionou os resultados apresentados por Firmino: “Primeiro que educação não é só nota do Ideb. Eu sou pedagogo e o Ideb mede só Português e Matemática. Se você pegar os dados, verá que 25% dos alunos que saem da rede municipal e vão para o primeiro ano do ensino médio são reprovados. Então, não é um modelo ideal. É importante reconhecer o Ideb, sim, mas temos que avançar nas outras disciplinas também.” Aqui, Fábio Novo contrapôs a celebração dos índices do IDEB, sugerindo que a qualidade da educação municipal tinha lacunas significativas não refletidas nas métricas oficiais.
Por outro lado, a relação entre Firmino Filho e Dr. Pessoa apresentava uma dinâmica diferente. Em abril de 2019, Firmino elogiou Dr. Pessoa: “Ele é uma pessoa muito inteligente, uma inteligência muito privilegiada e tem muita sabedoria. É sempre bom aqui beber um pouco das experiências que o Pessoa tem a nos dar.” Essa declaração demonstra um respeito e admiração pelas qualidades pessoais e profissionais de Dr. Pessoa, mesmo sendo este um potencial adversário político à época.
Dr. Pessoa, por sua vez, também adotou um tom conciliador em relação a Firmino: “Adversário político é uma coisa, inimigo é outra coisa. Nunca fui inimigo, fui adversário político.” Durante a visita de Firmino à sua casa, essa fala reforçou a distinção entre divergência política e animosidade pessoal, enfatizando a importância do respeito mútuo no cenário político.
Entretanto, as tensões com Fábio Novo eram mais acentuadas. Firmino respondeu às críticas do deputado afirmando: “O deputado Fábio Novo, assim como o senador Wellington Dias, declararam neste fim de semana que o objetivo deles é acabar com o inimigo, e esse inimigo é o Firmino, e esse inimigo é o PSDB. Eu fiquei até um pouco assustado com esse tipo de declaração. Numa democracia, nós podemos estar em lados opostos, podemos ser adversários, e contra adversários se luta numa eleição, se tem opiniões diversas. Mas tratar os outros como inimigos… Acho que essa expressão é muito forte e mostra uma espécie de arrogância, de prepotência, desses que se acham os todos poderosos, os donos do poder.” Firmino expressou preocupação com o tom beligerante adotado por Fábio Novo, ressaltando a necessidade de manter o respeito mesmo entre opositores.
Essas declarações demonstram diferenças significativas no tratamento entre os atores políticos. Enquanto a interação entre Firmino Filho e Fábio Novo era marcada por críticas diretas e confrontos abertos, a relação com Dr. Pessoa mostrava sinais de respeito pessoal e reconhecimento mútuo, apesar das divergências ideológicas.
O legado está na história. Talvez, para decidir no presente, o eleitor deva, simplesmente, relembrar o passado.