No último domingo (3), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), fez uma aparição significativa ao comparecer a um ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista. Embora Nunes tenha sido reeleito no ano passado com respaldo do ex-presidente, ele sempre evitou se intitular como “bolsonarista”. No entanto, seu segundo mandato demonstra uma aproximação crescente com esse setor da direita, conforme analistas políticos observam.
Uma nova postura política
No dia anterior ao ato na Paulista, Nunes criticou publicamente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs uma tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Bolsonaro. Essa mudança de tom é notável, já que, no ano anterior, o prefeito optava por esquivar-se de comentários sobre a Corte, buscando preservar uma imagem de neutralidade política.
Apesar da aliança com o núcleo bolsonarista, Nunes parece se esquivar de se comprometer totalmente com a ala mais extremista da direita. Na segunda-feira, após a determinação do STF, o prefeito decidiu compartilhar um vídeo no qual o governador Tarcísio de Freitas, historiador apoio de Bolsonaro, defendia o ex-presidente. Essa ação, em vez de produzir uma declaração própria, indica seu esforço em manter uma posição equilibrada entre direita e centro-direita, especialmente nas redes sociais.
Equilíbrio entre diferentes facções
Durante o ato de apoio na Paulista, Nunes manteve uma postura discreta. Ele apenas divulgou uma foto ao lado de seu vice, Mello Araújo (PL), em suas redes sociais, enquanto o vice-prefeito discursou em seu nome. Essa estratégia reflete uma tentativa de se mostrar presente sem, no entanto, se associar diretamente a discursos que poderiam afastar uma parte de seu eleitorado.
Nos bastidores, aliados afirmam que Nunes está tentando acenar para o eleitorado paulistano que o apoiou, principalmente aqueles que foram influenciados pela presença de Tarcísio. Entretanto, ele também reconhece que seu partido, o MDB, reside no espectro da centro-direita e que deve governar para todos, respeitando as distintas vertentes políticas presentes na cidade.
As consequências da aproximação com a direita
No sábado anterior ao ato, Nunes comentou que “não é normal” Bolsonaro estar vivendo sob prisão domiciliar, afirmando que a decisão do STF “extrapolou um pouco”. Esse pronunciamento é um desvio claro de seu comportamento anterior, onde costumava evitar discutir decisões judiciais. “Num país democrático, quem não está condenado estar sob prisão domiciliar… isso não é normal”, declarou ele durante uma visita à Festa da Achiropita, demonstrando uma postura cada vez mais firme e alinhada ao que muitos consideram uma “linha dura” no campo da segurança pública.
Essa guinada à direita pode estar ligada ao cenário político estadual, já que Nunes poderá renunciar em abril do próximo ano para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, caso o atual governador decida se candidatar à Presidência. Contudo, ele enfrenta dificuldades internas, especialmente em relação a Mello Araújo, que, segundo reportagens recentes, tem causado tensões em sua administração.
Desafios e próximos passos
Na questão administrativa, a presença de Araújo pode inviabilizar acordos fundamentais para a reeleição de Nunes em 2024, dado o temperamento de seu vice e os atritos que ele tem causado entre secretários e assessores. Para muitos políticos e analistas, o apoio ao bolsonarismo parece ser um movimento oportuno, mas que pode não garantir a consistência necessária para a governabilidade a longo prazo.
O futuro político de Nunes permanece incerto. Com a cidade de São Paulo sendo um caldeirão de diversidades políticas e sociais, sua capacidade de navegar entre as correntes do bolsonarismo e de outros setores será crucial para sua candidatura e para a administração de sua cidade nos próximos anos.
Embora a estratégia atual de Nunes busque um alinhamento com a direita, resta saber se essa aproximação trará os frutos desejados nas próximas eleições, ou se se revelará apenas um “bolsonarismo de ocasião”. O tempo dirá, e a política está repleta de surpresas, especialmente em um ano eleitoral.