Marine Rosset, a recém-nomeada presidente dos maiores escoteiros inspirados pelo catolicismo na França, renunciou ao cargo menos de dois meses após sua eleição devido a forte repercussão por suas posições sobre aborto e sua vida pessoal homoafetiva.
Controvérsia e motivos da renúncia
Rosset, eleita em 14 de junho com votação de 22 a 2, afirmou que sua decisão foi motivada pela situação “insofrével” dentro do movimento e pelo desejo de “proteger a organização”. A líder de 39 anos, membro do Partido Socialista, também comentou que sua administração foi alvo de instrumentalizações externas, que distorceram sua imagem e seus posicionamentos.
A associação dos escoteiros de França (SGDF), com mais de 100 mil membros, mantém uma identidade marcada por referências católicas, incluindo capelães e uma descrição de seu trabalho como movimento de “educação juvenil católica”.
Posições polêmicas e críticas internas
As posições públicas de Rosset, que defendem o direito ao aborto e sua relação homoafetiva, geraram forte oposição. Ela vive em união civil com uma pessoa do mesmo sexo e é mãe por reprodução assistida, fatos que contrariavam alguns membros conservadores da organização.
A própria líder admitiu que, após sua eleição, setores políticos, redes de comunicação e forças financeiras tentaram instrumentalizar suas posições, o que contribuiu para uma imagem distorcida do movimento.
Segundo o jornal Le Monde, alguns capelães internos consideraram sua nomeação problemática, expressando resistência às contradições entre sua vida pessoal e os ensinamentos da Igreja Católica sobre sexualidade e questões de vida.
Já o site católico Tribune Chrétienne qualificou a renúncia como “o fim de uma compreensão equivocada organizada”, destacando que liderar um movimento juvenil católico exige alinhar-se aos valores da Igreja.
Fatores políticos e impacto na decisão
Além das controvérsias internas, questões políticas influenciaram a decisão de Rosset. Com eleições parciais marcadas em sua circunscrição de Paris, ela planejava apoiar um candidato do Partido Socialista, movimento que poderia aprofundar a politização do movimento e afastar famílias católicas, segundo Le Monde.
Ela explicou que buscava evitar que suas declarações fossem alvo de uma análise excessiva, reforçando que a organização é maior do que sua imagem pessoal: “Era importante que o movimento não fosse reduzido à minha pessoa.”
A atual liderança do SGDF, representada pelo ex-vice-presidente Pierre Monéger, assumiu o comando de forma coletiva, com o apoio de duas novas vice-presidentes, Julie Lefort e Charles Le Gac. A associação afirmou ter sido alvo de “declarações violentas, discriminatórias e desumanizadoras”, e que Rosset entrou na Justiça devido às ameaças digitais recebidas.
Perspectivas futuras
A renúncia de Rosset marca um momento crítico na história do movimento escoteiro francês, que busca equilibrar sua identidade católica com uma sociedade cada vez mais pluralista. O SGDF declarou que continuará promovendo seus valores, agora sob uma nova direção coletiva, e que o foco é fortalecer o movimento sem comprometer seus princípios essenciais.