Durante um evento que homenageava sua carreira, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez comentários bem-humorados sobre a revogação dos vistos de entrada nos Estados Unidos, que afetou a maioria dos ministros da Corte. O episódio se transformou em um momento leve, apesar de seu contexto sério.
Um evento de reflexão e humor
A fala do ministro ocorreu na biblioteca do STF, em função do lançamento de uma obra que celebra sua contribuição ao Judiciário brasileiro. Mendes optou por usar o humor para discutir os desafios institucionais atuais e as dificuldades enfrentadas pela Corte. Ao mencionar que poderia falar em várias cidades internacionais, como Roma e Paris, ele ironizou sua impossibilidade de fazê-lo em Washington devido à situação dos vistos.
“O ministro Barroso falou dos desafios que temos tido e, alhures, eu já tive a oportunidade de dizer que poderia estar falando em Roma, em Paris, em Lisboa, agora não em Washington”, brincou Mendes, provocando risadas e aplausos entre os presentes.
Desafios institucionais e a defesa da democracia
A presença no evento contou com outros integrantes importantes do STF, como o presidente Luís Roberto Barroso, além dos ministros Edson Fachin, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Luiz Fux. O encontro foi marcado por discussões sobre a participação dos membros da Corte em eventos internacionais, especialmente no contexto após os episódios que marcaram o 8 de janeiro, quando houve tentativas de golpe no Brasil.
O decano do tribunal enfatizou a importância de contar a história da proteção da democracia em vez de uma narrativa de fracasso. “Poderíamos estar contando a história de uma debacle, da derrota do Estado de Direito, mas normalmente nós temos estados nesses ambientes contando a consagração da vitória, da atuação da jurisdição constitucional de proteção da democracia”, disse.
O ataque aos tribunais constitucionais
Gilmar Mendes também abordou a crescente hostilidade que tribunais constitucionais enfrentam, destacando seu papel crucial na manutenção da democracia. Ele afirmou que esses tribunais representam um alvo para tiranos e aspirantes a autocratas devido à sua função de defender o Estado de Direito.
“Mais do que qualquer juiz, tribunais constitucionais e supremas fortes possuem a responsabilidade política própria de manter o Estado de Direito e a sua capacidade regular de funcionamento. Não por outro motivo é que tiranos e aspirantes autocráticos são tão hostis aos tribunais constitucionais”, declarou Mendes, ressaltando que isso é uma questão de arbítrio e não de indignação.
A revogação dos vistos e suas consequências
A revogação dos vistos de oito dos onze ministros do STF, que também afetou seus familiares, foi anunciada no dia 18 de julho pelo Secretário de Estado americano, Marco Rubio. Essa decisão estava diretamente atrelada às ações do tribunal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta uma ação penal pelo seu envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro. A medida gerou reações diversas e acentuou o debate sobre a relação entre o Judiciário brasileiro e a política internacional.
Além do caráter humorístico da fala de Gilmar Mendes, o evento evidenciou um momento de reflexão profunda sobre os desafios que a democracia enfrenta atualmente. Ele e outros ministros do STF continuam a desempenhar um papel fundamental na defesa das instituições e dos direitos dos cidadãos brasileiros, mesmo diante de pressões externas e internas.
A situação e as reflexões apresentadas pelo ministro Mendes destacam não apenas a importância da justiça e da democracia, mas também o papel do diálogo e do bom humor em tempos de crise. Sua habilidade em abordar questões sérias com leveza torna suas intervenções ainda mais impactantes.
