Em entrevista à Reuters nesta quarta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou que o Brasil está mapeando suas reservas de minerais críticos e que poderá estabelecer parcerias internacionais, além dos Estados Unidos. A iniciativa faz parte de uma estratégia para diversificar a matriz de exportação de recursos essenciais para tecnologia e indústria.
Minerais críticos podem fortalecer o Brasil em negociações internacionais
Lula destacou que o governo está criando um conselho ligado à presidência para tratar da questão da soberania na exploração de minerais críticos. Ele afirmou ainda que o país não descarta negociações com empresas estrangeiras para a exploração de minerais como terras raras, nióbio, níquel e grafite. “Nós vamos começar a fazer, estou criando um conselho que será ligado à presidência e será tratado como questão de soberania nacional. Isso não significa que a gente não possa negociar com outros países do mundo,”
explicou.
Segundo o presidente, o Brasil também deve investir na produção de itens manufaturados a partir desses minerais, que são essenciais para baterias elétricas, veículos de tecnologia avançada e inteligência artificial. “Nós não vamos permitir acontecer o que já aconteceu no século passado, quando exportamos minério e compramos produtos com alto valor agregado,”
afirmou Lula.
O líder também reforçou que o Brasil ainda está em fase de mapeamento, mas que há potencial para o país se tornar um player estratégico na produção mundial de minerais. Além disso, Lula sinalizou que a parceria com países que possuem conhecimento avançado na exploração dessas riquezas pode abrir portas para investimentos em tecnologia e beneficiamento, etapas nas quais o Brasil atualmente depende de processamento externo.
Interesse dos EUA e cenário global
Washington demonstra grande interesse na diversificação de fornecedores de minerais críticos, principalmente para reduzir vulnerabilidades nas cadeias produtivas, dominadas pela China, que controla cerca de 70% do refino de 19 minerais considerados essenciais. Segundo o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, há disposição para ampliar o acesso americano a terras raras e nióbio brasileiros.
A possibilidade de negociações com os EUA também se encaixa na postura brasileira de reforçar sua posição estratégica em meio ao tarifão de 50% imposto pelos americanos sobre produtos brasileiros, em vigor desde o início de agosto. Ressalta-se que, por meio de uma ordem executiva de Donald Trump, cerca de 75% dos minerais exportados ao mercado americano estão isentos da tarifa — itens como ferro, ouro, rochas ornamentais e minerais como o nióbio.
Repercussões e futuras negociações
O governo já prepara uma política nacional voltada para minerais críticos, enquanto planeja uma missão empresarial aos Estados Unidos ainda neste ano para aprofundar as discussões e explorar áreas de cooperação estratégica. O diálogo entre os dois países revela uma preocupação mútua com a segurança nas cadeias produtivas e a busca por maior autonomia na exploração e processamento de minerais.
Para especialistas, a iniciativa brasileira pode facilitar o acesso a novas tecnologias, contrapartidas comerciais e investimentos na etapa de beneficiamento, na qual o Brasil ainda depende de processamento externo. A diversificação de parceiros e a valorização de minerais como terras raras, nióbio e grafite representam uma janela de oportunidades para o país no cenário geopolítico e econômico mundial.