A busca constante do ser humano pela face do Outro, que neste contexto é Deus, nos leva a refletir sobre a verdadeira comunhão que deve existir entre as pessoas. Essas reflexões se tornam ainda mais relevantes ao analisarmos o ensinamento de Jesus no Evangelho e as consequências do egoísmo e da acumulação de riquezas.
A ilusão do acúmulo e os ensinamentos de Coélet
O autor do Eclesiastes, Coélet, nos apresenta uma dura realidade: “Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é ilusão e grande desgraça”. Essa afirmação desperta um questionamento profundo sobre o real valor da vida, levando-nos a repensar o que realmente importa. A solução proposta por ele reside em viver moderadamente, aproveitando o que a vida tem a oferecer, sem esquecer da necessidade de uma convivência saudável com o próximo.
O Evangelho de Lucas e a crítica ao egoísmo
No Evangelho de Lucas, encontramos a narrativa de um homem rico que, satisfeito com sua produção, opta por armazenar tudo para si, ignorando o bem-estar de seus empregados. Este homem, que encontra a felicidade nos bens materiais, é descrito como tolo por Jesus, pois sua vida será demanda naquela mesma noite, e tudo o que acumulou ficará para outros. Essa história nos ensina que os bens, quando tomam à frente da vida, podem dominar nossas prioridades, ofuscando aqueles que realmente deveriam ser valorizados: Deus, a família e, mais importante, a própria vida.
A verdadeira riqueza e seus valores
O pecado do homem rico não reside em sua riqueza, mas sim em seu egoísmo, ao trabalhar apenas para si e não se enriquecer aos olhos de Deus. É um alerta que vai além da questão financeira; se aplica a todos, inclusive àqueles que, mesmo sem posses, trazem em seus corações um espírito individualista. A parábola fala a todos nós, lembrando que a verdadeira riqueza se encontra no compartilhamento e na solidariedade.
Transformando a vida através da espiritualidade
A segunda leitura nos guia ao verdadeiro significado do trabalho e das aspirações na vida. “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto” (Colossenses 3:1). Esse chamado nos incentiva a direcionar nossas vidas para objetivos maiores, que vão além das satisfações terrenas e egoístas. O apóstolo Paulo nos orienta a nos despirmos das ações impulsionadas por desejos imorais, mostrando que a vida humana deve ser vivida em busca do transcendente, do divino.
A partilha como caminho para a eternidade
O verdadeiro sentido de nossa existência e das potencialidades que possuímos não deve ser reduzido a simples satisfações materiais. Essas conquistas são efêmeras e nada levarão à eternidade, a não ser a forma como utilizamos nossos talentos e recursos em prol do próximo e do Reino de Deus. É através da partilha e da conexão com os outros que conseguimos transformar o material em imaterial, o humano em divino.
A experiência da comunhão e a busca por Deus
A vida, portanto, deve ser uma busca constante pela face de Deus e pela verdadeira comunhão humana. Ao abrirmo-nos ao outro, estamos, na verdade, abrindo-nos a Deus. Essa abertura promove uma felicidade que transcende as circunstâncias, levando-nos a uma verdadeira perenidade. Somente assim poderemos experimentar a verdadeira alegria e plenitude que tanto anseia nosso ser mais profundo. A procura pela eternidade se dá no ato de partilhar, de viver em comunidade e de estar presente na vida do próximo.
Assim, a reflexão proposta por esta parábola é um convite para que todos nós reavaliemos nossas prioridades e a forma como lidamos com nossas vidas e relações. Que possamos nos desprender do egoísmo e buscar a verdadeira comunhão em Deus e entre nós.