Entidades representando o setor automotivo, incluindo montadoras como Volkswagen, Stellantis, Toyota e General Motors, enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta semana, alertando que a redução das tarifas de importação dos kits de veículos da chinesa BYD poderia afetar empregos e investimentos no país. A discussão ocorre no contexto de uma possível votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex) sobre a redução das tarifas de CKD (Completely Knocked Down) e SKD (Semi Knocked Down), atualmente em 35%, para 10%.
Impacto no emprego e investimento ameaçado pela redução de tarifas
Segundo o documento assinado pelos CEOs de montadoras como Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota, a proposta de redução das tarifas coloca em risco o ciclo de investimentos de R$ 180 bilhões no setor automotivo brasileiro, previsto até 2030. A carta destaca que o setor gera atualmente 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos e responde por 2,5% do PIB nacional, além de representar 20% do PIB industrial de transformação com faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.
Fortalecimento da cadeia produtiva
Para as montadoras, a importação de conjuntos de peças não representa uma fase transitória, mas deve se consolidar como padrão operacional, diminuindo a produção nacional e os empregos gerados. “Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e o nível de geração de empregos”, afirma a carta.
Reação das entidades e resistência ao pedido da BYD
O documento foi assinado por executivos da Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota, além de representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e sindicatos do setor. Essas organizações também manifestaram preocupação com o crescimento de quase 60% nas importações de veículos entre 2022 e 2024 e alertaram que a redução das tarifas da BYD pode desestimular a reindustrialização do Brasil e comprometer empregos de qualidade.
O setor de autopeças, representado pela Abipeças e Sindipeças, também se posiciona contra a redução das tarifas, defendendo a elevação do imposto sobre veículos importados para 35%, em linha com o que está previsto para veículos prontos em 2026. Durante evento na Bahia, em junho, o presidente da BYD Brasil, Alexandre Baldy, defendeu a redução das tarifas de kits SKD, sustentando que o pagamento do mesmo imposto por veículos montados ou por kits importados que demandam investimentos e geram empregos não faz sentido.
Contexto de tarifas e entraves comerciais internacionais
As discussões ocorrem num momento em que o setor automobilístico brasileiro também enfrenta a ameaça de uma tarifa de 50% imposta pelo ex-presidente Donald Trump aos produtos nacionais exportados para os Estados Unidos, que deve entrar em vigor em 1º de agosto se não houver acordo entre os países. Essa medida deve prejudicar as exportações brasileiras e aumentar a pressão sobre a indústria local.
Próximos passos e perspectivas
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) deve deliberar nesta quarta-feira sobre a proposta de redução tarifária. Especialistas indicam que a decisão pode ter efeitos duradouros na estrutura produtiva do setor, dependendo do resultado. Enquanto isso, o governo ainda não se posicionou oficialmente sobre o pedido das montadoras e entidades envolvidas. A expectativa é de que a discussão seja decisiva para a política tarifária do setor nos próximos anos.
Mais detalhes podem ser encontrados na reportagem completa no O Globo.