Ainda sem validade oficial, a sobretaxa de 50% sobre produtos importados dos Estados Unidos já provoca reações no setor calçadista brasileiro. Os importadores americanos suspenderam compras programadas para agosto, e muitos exportadores do Brasil paralisaram a compra de insumos, como solas e saltos, devido à alta tarifa. A medida, se implementada na próxima sexta-feira, pode ameaçar aproximadamente 12 mil empregos diretos e indiretos, alerta Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Impactos no mercado de exportação de calçados
O mercado norte-americano é o principal destino das exportações brasileiras de calçados, com volume e recursos em crescimento. No primeiro semestre, foram enviados 5,8 milhões de pares aos Estados Unidos, totalizando US$ 111,8 milhões, o que representa uma elevação de 13,5% em volume e 7,2% em valor comparado a 2024, segundo dados da Abicalçados. No entanto, a imposição da tarifa pode inviabilizar a continuidade dessas vendas.
De acordo com Ferreira, a mudança na tarifa “tornaria inviável a exportação de calçados brasileiros para os EUA, porque 60% das nossas exportações para lá são de produtos private label — com marca da loja americana, o que impede sua venda no mercado doméstico ou em outros países, além de complicar as especificações técnicas e materiais utilizados”.
Desafios e preocupações do setor calçadista
O mercado norte-americano dá preferência a calçados fechados, de couro e com maior valor agregado, produzidos principalmente no Rio Grande do Sul, além de São Paulo, regiões consideradas polos de produção calçadista. Segundo Ferreira, a mudança na tarifa prejudicará essas regiões, que dependem do comércio com os EUA.
“Nessa altura do campeonato, o que a gente está desejando é que ocorra uma prorrogação, já que não temos sinais de uma solução até quinta-feira”, afirmou Ferreira. Ele também explicou que, atualmente, não há punições previstas para empresas americanas que cancelarem encomendas feitas ao Brasil, pois os contratos do setor de calçados geralmente não incluem cláusulas de multas para esses casos.
Negociações e possíveis desdobramentos
O próximo passo depende de uma decisão oficial da administração dos EUA, que deve anunciar a implementação da tarifa na sexta-feira. A expectativa do setor calçadista é que uma prorrogação das negociações possa evitar cancelamentos irreversíveis. Ferreira ainda comentou que uma possível negociação com a União Europeia pode ajudar a orientar uma futura definição de tarifas para o Brasil.
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Segundo Ferreira, a questão é atípica, pois as vendas ao mercado norte-americano costumam ocorrer por contratos de fornecimento com obrigações mútuas, o que não é o padrão na venda de calçados, dificultando a negociação em situações de mudança repentina de tarifas.
“O que esperamos agora é uma prorrogação, pelo menos, para evitar o cancelamento imediato de contratos após o dia 31”, reforçou o executivo. Além disso, ele destacou que a negociação com a União Europeia poderá ser um parâmetro para uma eventual definição de nova alíquota para o Brasil.
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