A sobretaxa americana sobre mercadorias exportadas pelo Brasil, anunciada no início de julho, deverá afetar uma das marcas culturais brasileiras mais populares nos EUA: as tigelas de açaí. O principal destino da fruta, cuja produção concentra-se no Pará, é o mercado americano, especialmente na Califórnia, onde o consumo de açaí cresceu exponencialmente nos últimos anos.
Impacto nas exportações e principais marcas no mercado americano
Segundo a associação nacional de produtores, Abrafrutas, as exportações de açaí representam cerca de US$ 45 milhões em 2023, levando aproximadamente 61 mil toneladas da fruta do Pará para o exterior. Apesar de correspondência a uma pequena parcela da produção nacional de 1,7 milhão de toneladas, o crescimento das exportações foi notável desde 1999, quando o Pará exportou apenas uma tonelada de açaí.
Marcas como a Sambazon, fundada em 2000 pelo americano Ryan Black, distribuem o produto em cerca de 50 mil pontos de venda nos EUA e possuem lojas próprias desde 2010. A Oakberry, que começou em São Paulo em 2016, além de operar no Brasil, possui atualmente aproximadamente 50 lojas nos EUA e tem planos de ampliar sua presença para 70 unidades neste ano. A Ubatuba Açaí, criada na Califórnia em 2013, projeta inaugurar sua 23ª loja em Brea, região próxima a Los Angeles, antes do início da sobretaxa prevista para a próxima semana.
Repercussão internacional e estratégias de adaptação
Especialistas como Denise Martins Acosta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Pará (Sindfrutas), destacam que a exportação é fundamental para equilibrar oferta e demanda, evitando uma superoferta no mercado interno que poderia diminuir os preços e prejudicar os produtores rurais. A estratégia das empresas americanas, como explicou Daniela Demétrio, proprietária da Ubatuba Açaí, é aguardar antes de repassar o aumento de custos aos consumidores, incluindo estoques que cobrem entre quatro e cinco meses de vendas.
Ela também revelou que sua rede recebe, mensalmente, dois contêineres de açaí processado do Brasil, mas tem a capacidade de adiar pedidos e ajustar margens para mitigar o impacto financeiro. A estratégia de manter fornecedores diretos no Pará busca reduzir custos e preservar a competitividade no mercado americano.
Desafios e perspectivas para a cadeia produtiva do açaí
Apesar do crescimento e da tradição no consumo local, famílias ribeirinhas que fazem a extração do açaí na Ilha de Marajó e ao longo do rio Amazonas enfrentam dificuldades com as mudanças climáticas, como recordes de calor que prejudicam as safras passadas e atuais, gerando preocupação com a disponibilidade da fruta para o mercado externo e interno. Segundo Jhoy Gerald Rochinha Jr., diretor da Associação da Cadeia Produtiva do Açaí de Belém, a cadeia movimenta aproximadamente R$ 7 bilhões por ano no Pará, com 180 fábricas processando o fruto para o Brasil e o exterior.
Apesar de a exportação representar uma parcela relativamente pequena diante da produção total, ela é vital para evitar excessos no mercado interno e manter o preço da fruta. Com a chegada da COP30 em Belém, há esperança de que a valorização do produto e a preservação das comunidades ribeirinhas possam ainda fortalecer a cadeia produtiva do açaí no Brasil.
Segundo análises internacionais, como a publicada pelo The Economist, a tentativa dos EUA de interferir no Brasil com tarifas é vista como uma “chocante agressão”, podendo afetar não só as exportações brasileiras, mas também a economia local das regiões produtoras. Ainda assim, o mercado global do açaí mantém um potencial de crescimento, especialmente com a crescente demanda por alimentos saudáveis e naturais ao redor do mundo.
Para mais detalhes sobre o impacto das tarifas na exportação do açaí e suas implicações, consulte o fonte oficial.