A paixão pelo futebol no Brasil transcende gerações e classes sociais, moldando a identidade de milhões de torcedores. Recentemente, uma pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec trouxe à tona dados reveladores sobre o fanatismo das torcidas brasileiras. A pesquisa não apenas destaca a intensidade desse amor, mas também revela as diferenças marcantes entre os grupos de torcedores. Entre histórias de viagens longas para assistir a jogos, há um retrato que reflete não apenas a fidelidade ao clube, mas também as complexidades sociais envolvidas.
O cotidiano dos torcedores rubro-negros
Uma ou duas vezes por mês, a rotina de torcedores do Flamengo na Bahia se torna uma aventura. Por volta das 9h, um ônibus vindo de Teixeira de Freitas chega à Gávea, transportando cerca de 50 apaixonados pela equipe carioca. Organizadas pelas embaixadas FlaTexas e FlaGirls, as excursões incluem visitas ao museu do clube, passeios pela praia de Copacabana e, claro, jogos no icônico Maracanã. Mesmo após 15 horas de viagem de ida e 15 horas de volta, os torcedores não demonstram cansaço, apenas entusiasmo para reviver a emoção do futebol.
“Essa imersão pelo Flamengo traz alegria e disposição para a semana”, compartilha Tarcísio Galvão, um dos torcedores da cidade de Alcobaça. “Vivenciar o Maracanã transforma o cansaço em euforia. E ainda tem o benefício de me aproximar de outras pessoas.”
Uma pesquisa que revela o fanatismo no Brasil
A “Pesquisa O GLOBO/Ipsos-Ipec — As maiores e mais fanáticas torcidas do Brasil” ajuda a entender esse sentimento. Os torcedores foram convidados a avaliar, em uma escala de 0 a 10, o nível de fanatismo que sentem pelo seu clube. Os resultados foram surpreendentes: um terço dos participantes escolheu as notas mais altas (9 e 10), enquanto 26,7% optaram pelas notas mais baixas (0 a 4).
Os dados indicam que os homens se consideram mais fanáticos, assim como os mais jovens, especialmente na faixa etária de 25 a 34 anos. A pesquisa também mostra que o fanatismo é mais intenso entre quem se declara preto ou pardo e entre os entrevistados do Nordeste, principalmente em cidades pequenas com menos de 50 mil habitantes.
Os desafios do fanatismo feminino
Contrapõe-se a esse perfil os torcedores que se consideram menos engajados. Este grupo costuma ser formado por mulheres, pessoas de 45 a 59 anos, brancas, com ensino superior e renda acima de cinco salários mínimos. Marina Dantas, pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), sugere que existe um histórico de exclusão do futebol para as mulheres no Brasil que pode influenciar esse resultado.
“Há uma série de questões psicossociais que fazem do futebol um esporte majoritariamente masculino. As mulheres podem gostar, mas muitas vezes precisam se adaptar a um modo de viver o futebol que é predominantemente masculino”, explica a professora da UEMG.
Diferentes comportamentos entre torcedores
A pesquisa não somente aborda a percepção de fanatismo, mas também investiga o comportamento dos torcedores. Entre os que se consideram fanáticos, 59,1% consomem notícias sobre seus clubes regularmente, 56,4% assistem a todos os jogos, e 29,2% se abalam emocionalmente com derrotas. Curiosamente, enquanto os jovens usam mais roupas e acessórios do time, os mais velhos são os que mais assistem jogos.
“Essa diferença pode estar ligada à questão de renda. Os mais velhos, geralmente, têm mais possibilidades financeiras para ver os jogos com frequência”, afirma Silvio Ricardo da Silva, pesquisador do GEFuT.
O acesso ao futebol e suas implicações sociais
Embora aqueles com menor renda se considerem mais fanáticos, os que têm maior poder aquisitivo tendem a assistir mais jogos e a utilizar mais produtos relacionados ao time. Essa realidade demonstra como o acesso a estádios, streaming e produtos impacta o envolvimento dos torcedores no esporte.
Conclusão: a estrada do amor pelo futebol
No desfecho, o amor pelo futebol no Brasil é uma questão multifacetada, que mostra a união entre os torcedores, mesmo diante de barreiras sociais. Os rubro-negros do Sul da Bahia, por exemplo, não hesitam em encarar longas estradas para prestigiar seu time. O fanatismo pelo futebol transcende a simples apreciação esportiva — é uma verdadeira expressão de identidade e pertencimento.
A pesquisa foi realizada entre 5 e 9 de junho de 2025, com 2000 entrevistados em 132 municípios brasileiros, e é uma reflexão profunda sobre os torcedores e suas paixões.