As tarifas de 50% anunciadas pelo governo dos Estados Unidos contra o Brasil ameaçam a continuidade da operação da Taurus no país e podem impactar mais de 15 mil empregos no Rio Grande do Sul. A brasileira, maior fabricante de armas de fogo do Brasil, avalia transferir sua produção para os EUA, caso as tarifas sejam mantidas além de agosto.
Impacto das tarifas na indústria de armas brasileira
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os EUA foram o destino de 61% das exportações brasileiras de armas e munições em 2024, predominantemente vindas do Rio Grande do Sul e São Paulo. Com a tarifa, exportadores deixam de enviar mercadorias em sentido aos EUA para evitar as altas tarifas, e o transporte marítimo leva cerca de 14 dias.
A Taurus, que lidera as exportações brasileiras do setor, atualmente envia 87% de suas armas ao mercado americano, o que corresponde a cerca de 83% de sua receita líquida em 2024. Caso as tarifas se tornem permanentes, a empresa avalia transferir toda a operação de produção para os EUA, o que pode representar a perda de até 15 mil empregos no Brasil, incluindo 3 mil diretos na fábrica de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
Desafios e possibilidades de transferência de produção
O CEO da Taurus, Salesio Nuhs, afirmou que a medida não é uma ameaça, mas uma estratégia de sobrevivência frente à inviabilidade econômica provocada pelas tarifas. Contudo, analistas como Fabiano Vaz, da Nord Investimentos, veem essa saída como improvável devido aos altos custos de mão de obra e à dependência de componentes importados.
Marco Saravalle, analista da MSX Invest, destacou que a transferência total da produção para os EUA é improvável, pois o mercado americano é muito relevante e a Taurus conquistou uma posição importante ali, fabricando nos EUA peças importadas do Brasil. Uma mudança dessa magnitude provocaria uma perda significativa na estrutura industrial brasileira e na geração de empregos locais.
Dependência do mercado americano e quadro atual do setor
Em 2024, o Brasil exportou US$ 528 milhões em armas, munições, partes e acessórios, com os EUA respondendo por 61,3% desse total. A Taurus é responsável por aproximadamente 90% das vendas externas de armas brasileiras, com quase toda a sua produção direcionada ao mercado americano.
Antes da ameaça tarifária, as vendas da Taurus já vinham em declínio, recuando de um pico de 2,3 milhões de unidades entre 2018 e 2021 para 1,2 milhão em 2024, refletindo a normalização do mercado externo após o auge pandêmico e mudanças na regulamentação doméstica.
Repercussões econômicas locais e desafios políticos
A possível saída da Taurus impactaria drasticamente a economia de São Leopoldo, onde está localizada sua maior fábrica. Estima-se que cerca de R$ 520 milhões em exportações relacionadas à cidade, equivalente a 4,7% do PIB municipal, possam ser afetados, levando a uma recessão regional com demissões em massa.
O governo brasileiro, sob o comando de Lula, tem buscado negociar a suspensão das tarifas, mas ainda não obteve resultados concretos. O presidente global da Taurus, Salesio Nuhs, argumenta que a transferência de produção é uma questão de sobrevivência, embora analistas duvidem da viabilidade dessa estratégia a longo prazo, dada a competitividade e o know-how da indústria no Brasil.
Especialistas destacam que a realocação total da produção enfrentaria dificuldades de custos e infraestrutura, além de comprometer a posição da Taurus no mercado norte-americano, que ela conquistou ao longo de décadas. Assim, a atual crise sinaliza um momento de incerteza para o setor de armas brasileiro, com riscos de retração profunda.
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