Durante a “Festa do Papa”, realizada na Nunciatura Apostólica do México, o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário do Vaticano para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, fez um importante apelo à humanidade: a política deve deixar de ser um mero “exercício de poder” e se transformar em um verdadeiro “ato de justiça”. A urgência de ouvir as “feridas silenciosas da humanidade” e dar voz aos mais vulneráveis foi o cerne de seu discurso.
A importância do multilateralismo na diplomacia
Gallagher começou defendendo que “o Papa Leão acredita profundamente no multilateralismo”, enfatizando não a burocracia abstrata, mas uma diplomacia viva e engajada. Para ele, esta diplomacia deve inclinar-se para as feridas dos deslocados, dos migrantes e dos explorados. “É através da escuta dos que sofrem que encontramos o verdadeiro rosto da política”, afirmou.
A sua chegada ao México, no dia 24 de julho, precedeu a Assembleia Geral da Federação Internacional das Universidades Católicas em Guadalajara, e seu discurso refletiu sobre a importância histórica da Igreja no diálogo humanitário e diplomático ao longo da trajetória do país. Gallagher destacou a necessidade de um compromisso ativo da Igreja na promoção da justiça, caráter manifestado na presença da Igreja nas salas de aula, hospitais e no cotidiano dos cidadãos.
O legado dos missionários e a cultura mexicana
O arcebispo lembrou da chegada dos primeiros missionários ao México no século XVI e como trouxeram a fé cristã ao invés de uma “doutrina abstrata”. Ele mencionou, por exemplo, frei Juan de Zumárraga, primeiro arcebispo do México, como um símbolo da disposição da Igreja em se colocar à disposição do povo. Além de pregar a fé, esses missionários contribuíram para a construção de escolas e hospitais, permitindo um verdadeiro encontro com Deus e com a dignidade humana.
Nossa Senhora de Guadalupe e a unidade do povo mexicano
Gallagher também abordou a figura de Nossa Senhora de Guadalupe como um elemento central na cultura mexicana. Ele ressaltou que a aparição da Virgem em 1531 não foi um imposicionismo, mas um acolhimento. “Ela representa uma ponte entre os povos e o símbolo mais poderoso da unidade entre a Igreja e o povo mexicano”, afirmou, mencionando que sua presença é vital na construção da identidade nacional.
Relações entre o México e a Santa Sé
As relações diplomáticas entre o México e a Santa Sé foram destacadas por Gallagher como um vínculo que se fortalece desde que foram restabelecidas em 1992, após um longo período de distanciamento. Ele enfatizou que a relação se baseia no respeito mútuo e nos valores compartilhados, e que a Igreja continua comprometida com o desenvolvimento humano integral.
Caminhar juntos em tempos desafiadores
O arcebispo reafirmou a disposição da Igreja em “caminhar juntos” com os mais vulneráveis, incluindo pobres, migrantes e indígenas. Sua mensagem foi clara: “Em tempos de polarização e fragmentação social, a dignidade humana e a solidariedade são mais necessárias do que nunca.” Ele observou a resiliência do povo mexicano diante das “feridas silenciosas”, como a pobreza e a violência, reiterando a importância da Igreja em sua missão de serviço.
Escuta ativa para a promoção da paz
No contexto mundial atual, Gallagher destacou a importância da diplomacia, que deve servir como um canal de paz e cooperação. Ele reiterou a crença do Papa Leão no multilateralismo como um meio de garantir que nenhum povo seja ignorado. “Ouvir realmente aqueles que sofrem é o primeiro passo para ver o rosto de Cristo neles”, declarou, ressaltando a necessidade de uma política fundamentada em direitos e justiça.
Um futuro com compaixão e renovação
Concluindo seu discurso, Gallagher evocados as “flores” que nascem “do sangue dos mártires mexicanos”, simbolizando esperança. Ele fez um apelo à responsabilidade coletiva, lembrando que cada criança, cada migrante e cada vítima da violência é um irmão ou irmã, e não apenas uma estatística. Ele encerrou com uma invocação à proteção da Virgem de Guadalupe, desejando que o papado de Leão XIV seja um tempo de renovação, compaixão e paz.
O discurso do arcebispo na Nunciatura Apostólica trouxe à tona questões cruciais para a sociedade mexicana, reforçando a importância da escuta, da presença e do compromisso efetivo da Igreja na busca por justiça e solidariedade.