No dia 9 de julho, Donald Trump surpreendeu ao receber na Casa Branca líderes de cinco países africanos — Senegal, Gabão, Libéria, Guiné-Bissau e Mauritânia — em uma cúpula estratégica voltada a negociar o acesso americano a minerais críticos e a reposicionar os Estados Unidos na África. Esses países, apesar de apresentarem PIBs relativamente baixos, detêm recursos estratégicos como manganês, cobre, bauxita e terras-raras, essenciais para a fabricação de baterias, energia renovável e tecnologia de ponta. A iniciativa dos EUA ocorre em meio a uma escalada da competição global por esses minerais, que vem redesenhando os mapas de influência internacional e afetando, diretamente, países como o Brasil.
Conflito por minerais estratégicos e o papel do Brasil
Enquanto os EUA reforçam suas alianças bilaterais na África, o governo Lula prepara uma política nacional para minerais críticos, tentando garantir maior autonomia e valor agregado ao setor de recursos naturais, alvo do interesse internacional, sobretudo dos Estados Unidos. Segundo fontes do governo, esse movimento visa transformar o Brasil de mero exportador de matérias-primas para um protagonista na cadeia global de produção tecnológica.
Especialistas apontam que a virada dos EUA na política para a África está ligada à perda de terreno diante da China, que consolidou sua presença em diversas minas africanas e amplia suas exportações de minerais essenciais. Nos últimos anos, a China aumentou sua posse de terras-raras, cobalto e outros recursos estratégicos, fortalecendo sua liderança na cadeia de suprimentos globais. Nesse cenário, a disputa por minerais transcende o mero comércio, envolvendo o controle de cadeias produtivas e inovação tecnológica.
Impacto na América Latina e no Brasil
Como reflexo dessas tensões, o Chile — maior fornecedor de cobre para os EUA — teve seus preços globais de metal subindo imediatamente após uma imposição de tarifas americanas, em 11 de julho. O movimento ameaça não apenas os exportadores latino-americanos, mas também acende o alerta no Brasil, que, embora não seja grande exportador de cobre para os EUA, sente o peso de possíveis barreiras e busca fortalecer alianças regionais, inclusive com países africanos.
Nos últimos meses, os EUA também anunciam ações, como a tarifa de 50% sobre importações de cobre procedente de Chile, Canadá e México, com início em agosto, reforçando sua estratégia de proteger sua indústria e pressionar fornecedores. Além disso, Washington busca ampliar sua influência por meio de acordos bilaterais que garantam o fornecimento de minerais críticos às indústrias de eletrificação, digitalização e sustentabilidade.
Novas dinâmicas na África e a postura brasileira
Na África, países como Gabão, Ruanda, Namíbia e Zimbábue estão restringindo a exportação de minerais em estado bruto, promovendo a industrialização local e geração de empregos. Algumas nações africanas também abrem suas portas para investimentos estrangeiros, desde que contribuam para a cadeia de valor regional.
Para o Brasil, esses movimentos representam uma oportunidade, mas também um desafio. Com seus recursos minerais abundantes — como ferro, lítio e terras-raras — o país precisa reagir às movimentações globais, fortalecendo sua política industrial, investindo em pesquisa, tecnologia e industrialização de recursos naturais, além de buscar alianças estratégicas, inclusive com África e Ásia. Segundo o professor de Direito Internacional e Relações Internacionais Armando Alvares Garcia Júnior, “a capacidade de adaptação e de antever o cenário internacional pode determinar o protagonismo do Brasil neste novo ciclo de disputas por minerais”.
Perspectivas futuras e o papel do Brasil no cenário global
Enquanto as tensões no cenário internacional aumentam e o bloco do BRICS enfrenta dificuldades de coesão — com a ausência do presidente chinês Xi Jinping na última cúpula e bloqueios políticos — o Brasil precisa redefinir sua diplomacia multilateral. A crise de influência do bloco e as ações unilaterais do governo americano apontam para uma fragmentação que pode afetar o futuro econômico e político do país.
ainda que fragmentado, o mundo multipolar exige do Brasil estratégia de longo prazo, inovação e alianças tecnológicas. Como afirmado por analistas, “a era dos minerais críticos exige visão de futuro e protagonismo às nações que souberem unir suas riquezas ao conhecimento e integração regional”.
Por fim, a disputa por minerais estratégicos deve definir os rumos do Brasil na economia mundial nas próximas décadas, num cenário onde adaptação e alianças inteligentes serão decisivas para manter o país relevante na nova geopolítica global.
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