A situação na Faixa de Gaza continua a se agravar, com agências humanitárias, como Médicos Sem Fronteiras (MSF), relatando condições desumanas enfrentadas por crianças, mulheres e idosos. As declarações de responsáveis pela organização revelam uma realidade chocante: a fome e a escassez de recursos básicos têm impactado não apenas a população civil, mas também os próprios profissionais de saúde que tentam ajudar.
Crianças e idosos em risco
De acordo com relatos de Caroline Willemen, uma das coordenadoras dos MSF em Gaza, a fome é descrita como uma “escolha deliberada”, onde os poucos que tentam buscar alimentos são frequentemente alvejados. A escassez de comida é tão severa que os próprios agentes humanitários estão se alimentando apenas a cada dois dias, devido à impossibilidade de encontrar produtos nos mercados esvaziados.
O Dr. Mohammed Abu Mughaisib, vice-coordenador médico dos MSF em Gaza, detalha o impacto da fome no corpo humano. Ele explica que, nas primeiras 24 horas sem alimento, o nível de açúcar no sangue diminui drasticamente. Com o passar dos dias, o corpo entra em “modo de sobrevivência”, começando a sacrificar tecidos musculares, incluindo até mesmo o coração, em busca de combustível para as funções vitais. “É neste ponto que as crianças param de chorar”, afirma Mughaisib, enfatizando a situação desesperadora em que se encontram.
Médicos também enfrentam a fome
Além de cuidar de pacientes em estado crítico, o próprio pessoal médico enfrenta a mesma luta pela sobrevivência. O Dr. Mughaisib compartilha que tem se alimentado apenas uma vez por dia em meio a essa crise sem precedentes, e que não é o único a passar por essa situação. “Estamos cuidando de pacientes que estão morrendo de fome enquanto nós mesmos estamos começando a passar fome”, lamenta. A realidade é que até motoristas de ambulância, essenciais para o transporte de feridos, estão sendo afetados pela escassez de alimentos.
Uso de comida e água como armas de guerra
O Dr. Mughaisib denuncia a utilização de comida e água como armas nesta guerra, afirmando que essa prática é absolutamente inaceitável. Caroline Willemen complementa esta informação, relatando que o número de pacientes internados devido à fome quadruplicou desde maio. “Espera-se que os médicos salvem vidas, mas como é possível se eles próprios estão sendo lentamente consumidos pela fome?” questiona Willemen.
Uma batalha contra o tempo e a adversidade
Enquanto a experiência cotidiana na Faixa de Gaza se desenrola em meio a bombardeios e destruição, as consequências da guerra continuam a abalar os cidadãos. A clínica dos Médicos Sem Fronteiras recebe diariamente dezenas de pacientes com ferimentos graves, fragilizados por uma alimentação inadequada. Os profissionais de saúde se deparam com a dura realidade de tratar pessoas que já estão debilitadas fisicamente, complicando ainda mais o quadro clínico dos feridos de guerra.
As dificuldades em encontrar alimentos e água em Gaza representam um severo problema, exacerbado pela guerra que não mostra sinais de trégua. A necessidade urgente de assistência humanitária é mais atual do que nunca, e a comunidade internacional precisa reconhecer que o acesso à alimentação e cuidados médicos deve ser garantido, independente das circunstâncias políticas ou conflitos em curso.
Um apelo à comunidade internacional
Com a realocação de esforços para fornecer ajuda humanitária, é fundamental que a comunidade global se una para exigir a proteção dos civis e o fim do uso de comida e água como armas de guerra. A dignidade humana deve ser preservada, não importando o cenário. A luta pela vida e pela saúde das pessoas em Gaza é um assunto que deveria estar no centro da agenda internacional, e a mobilização de recursos e esforços para reverter essa situação crítica é urgentemente necessária.
Conforme a crise humanitária em Gaza se intensifica, é vital que o mundo não vire as costas para os apelos desesperados de ajuda. O tempo de agir é agora.