A Paróquia São João Baptista de Marrere, situada na cidade de Nampula, no norte de Moçambique, enfrenta uma situação alarmante com repetidas invasões em seus terrenos. Essa é a terceira instituição da Igreja Católica a sofrer ocupações ilegais na região, despertando preocupação entre a comunidade religiosa e reafirmando a necessidade de preservar a integridade dos espaços religiosos.
Preocupações da Igreja Católica
Na última invasão, moradores da área invadiram e demarcaram espaços pertencentes à paróquia, argumentando a necessidade de habitação e a falta de terrenos urbanos disponíveis. O vice-pároco, Padre Jeremias, expressou sua surpresa diante da agressão aos bens da Igreja, que além de ferir a propriedade, compromete a convivência pacífica sempre promovida pela instituição. “As pessoas invadiram totalmente o espaço, danificaram culturas e recusam-se ao diálogo. Esta atitude não só viola a propriedade da Igreja como também compromete a convivência pacífica que sempre promovemos”, disse o sacerdote.
Padrão de ocupações ilegais
É importante ressaltar que esse fenômeno não é isolado. Antes da Paróquia de Marrere, outras duas instituições católicas, o Mosteiro Mater Dei e o Seminário Propedêutico, já enfrentaram situações semelhantes. Embora a Igreja tenha permitido temporariamente o uso de seus terrenos para fins agrícolas, sempre houve um entendimento claro e um compromisso anual formalizado. Agora, contudo, a realidade é de apropriações indevidas, desconsiderando qualquer acordo e entendimento.
Possíveis motivações políticas
O contexto político da região também é um fator preocupante. O Padre José Luzia, que reside na localidade afetada, levantou questionamentos sobre a motivação política por trás das invasões. “Há sinais de uma mão invisível a orquestrar estas ações, talvez ligada a setores conservadores do partido no poder”, afirma. Ele sugere que a arquidiocese de Nampula, por sua postura crítica, possa estar sendo alvo de represálias silenciosas.

Apelo à pacificação e diálogo
A comunidade paroquial e os líderes locais estão fazendo apelos para que haja uma retirada pacífica dos ocupantes e um diálogo aberto com a Igreja e as autoridades competentes. Após uma invasão anterior no Seminário Propedêutico, Dom Inácio Saúre, arcebispo de Nampula, descreveu a situação como uma grave injustiça. Segundo ele, “estes espaços desempenham um papel importante na vida religiosa e social do país, e isto representa uma grande afronta. A Igreja nunca recorrerá à violência, mas pedirá sempre que a justiça seja feita”.
Contribuições da Igreja à sociedade
Dom Inácio enfatizou o papel positivo da Igreja Católica em setores essenciais, como na educação e saúde, através da Universidade Católica de Moçambique e várias escolas comunitárias, reforçando assim a importância de proteger as instituições e os espaços que lhes pertencem legalmente. A interferência em propriedades religiosas não só prejudica a Igreja, mas também afeta diretamente a vida da comunidade que depende das atividades sociais e educacionais promovidas pelo clero.
Perante a gravidade da situação, a Igreja Católica em Moçambique continua a chamar atenção para a urgência na proteção de seus bens e a busca de soluções pacíficas para conflitos que ameaçam a convivência harmônica de sua comunidade. O diálogo com as autoridades é visto como um passo crucial para restabelecer a ordem e garantir a justiça em Nampula.