Brasil, 27 de julho de 2025
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Conservadorismo no Brasil recua, mas rejeição a casamento LGBT+ aumenta

Pesquisa revela nuances no conservadorismo brasileiro, com aumento da rejeição a casamentos do mesmo sexo e apoio por penas severas.

Uma nova pesquisa da Ipsos-Ipec, que analisa o perfil ideológico da população brasileira em relação a temas de costumes, mostra que o conservadorismo apresentou um leve recuo em comparação ao levantamento anterior realizado em 2023. No entanto, os dados também indicam que a sociedade brasileira ainda se dista dos valores progressistas, especialmente à luz do notável aumento da rejeição ao casamento homoafetivo.

Rejeição ao casamento LGBT+

Conforme a pesquisa, 47% dos entrevistados se opõem ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto 36% expressam apoio. Este resultado reflete um salto na rejeição em relação ao último levantamento, realizado há dois anos, onde 41% estavam contra e 44% a favor. Este é o índice mais alto de rejeição ao casamento homoafetivo desde 2018, quando 50% da população se opunha a essa união, com 39% apoiando. Embora o Supremo Tribunal Federal garanta a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo desde 2013, o clima social contrário a essa prática se intensifica.

A margem de erro do estudo é de dois pontos percentuais. A pesquisa, batizada de índice de conservadorismo brasileiro, teve sua primeira edição em 2010 e inclui outros seis levantamentos realizados ao longo dos últimos 15 anos. Nesta rodada, o instituto ouviu 2 mil pessoas entre os dias 3 e 8 de julho em entrevistas domiciliares em 131 municípios do país. Além do casamento LGBT+, os entrevistados foram questionados sobre temas como prisão perpétua, pena de morte, redução da maioridade penal, acesso a armas de fogo e a legalização do aborto.

Índice de conservadorismo e temas sensíveis

A Ipsos-Ipec desenvolveu um índice que varia de 0 (mais progressista) a 1 (mais conservador), e o Brasil foi avaliado com um índice de 0,652 em 2025, ligeiramente abaixo de 0,665 em 2023. Contudo, continua acima da menor taxa da série histórica, que foi 0,639 em 2021. De acordo com a instituição, esses números “desenham um Brasil complexo e multifacetado”, refletindo o embate entre ideais progressistas e conservadores na sociedade.

Embora o conservadorismo ainda prevaleça entre os dados, a pesquisa notou uma diminuição geral do apoio a propostas de “linha dura” nas áreas de segurança pública, onde a população ainda se mostra favorável à pena perpétua para crimes hediondos (72%) e à redução da maioridade penal (65%). Porém, esses índices são inferiores aos registrados em 2023, quando 77% estavam a favor da pena perpétua e 73% da redução da maioridade penal. A resistência a essas propostas aumentou, com a rejeição à pena perpétua pulando de 18% para 21% e a rejeição à maioridade penal de 21% para 28%.

Crescimento da oposição à pena de morte

Outro fato relevante observado foi a mudança nas atitudes em relação à pena de morte. Hoje, 49% dos entrevistados rejeitam a proposta, superando os 43% que oferecem apoio — uma inversão de tendência em comparação a 2023 e o primeiro registro desse tipo desde 2022.

Em relação a outros temas controversos, como a flexibilização da posse de armas de fogo e a legalização do aborto, os índices parecem estabilizados, com ampla maioria da população se opondo a essas pautas, segundo a Ipsos-Ipec.

Análise demográfica das opiniões

O levantamento destacou que a redução do índice de conservadorismo não se manifestou uniformemente entre todos os grupos sociais. Esse avanço mais progressista foi notável entre mulheres, indivíduos acima de 60 anos, pessoas com baixa escolaridade e de menor renda familiar, além de residentes das regiões Centro-Oeste e Norte. Em contrapartida, a inclinação conservadora aumentou entre homens, moradores das capitais, pessoas com rendas superiores a cinco salários mínimos e brasileiros com nível superior.

Patrícia Pavanelli, diretora de opinião pública do instituto, atribui o aumento da rejeição ao casamento LGBT+ a um paradoxo: “À medida que os casais do mesmo sexo se tornam mais visíveis na cultura e na sociedade, também enfrentam maior resistência.” Ela acrescenta que a normalização e aceitação dessa pauta nas mídias sociais e no entretenimento podem gerar um backlash de reações conservadoras.

Por fim, Pavanelli sugere que o aumento da rejeição às medidas duras de segurança pública pode ser efeito de uma resposta social à violência policial, especialmente entre entrevistados de baixa renda e com menor nível de educação. “Essas opiniões estão ligadas à questão racial, uma vez que segmentos mais vulneráveis da população são os mais afetados por essas políticas,” conclui Patrícia.

A pesquisa reflete um panorama complexo do conservadorismo no Brasil, evidenciando que, embora haja recuos em algumas áreas, a luta por igualdade e direitos humanos enfrenta desafios significativos na sociedade.

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