Nos últimos dias, quem passeia pela Baía de Guanabara pode ter tido a oportunidade de avistar um ilustre morador temporário: Jorge, uma tartaruga-cabeçuda que se tornou uma celebridade internacional após retornar ao mar aberto, após passar 40 anos em cativeiro. Sua história emocionante e surpreendente envolve paixão pelo mar, ciência e luta pela preservação ambiental.
A trajetória de Jorge: de cativado a livre
Jorge nasceu na costa da Bahia nos anos 60. Sua jornada extraordinária começou em 1984, quando foi encontrado ferido em uma rede de pesca na cidade portuária de Bahía Blanca, Argentina. Ele foi levado para um aquário em Mendoza, onde viveu por mais de quatro décadas. A reabilitação e reintrodução de animais marinhos não era uma prática comum na época e, por isso, Jorge passou a maior parte de sua vida em confinamento, longe do oceano.
Foi somente em 2022 que a decisão de devolvê-lo ao mar foi tomada. “Foram necessários três anos de readaptação”, explica Laura Prosdocime, pesquisadora do Museu Argentino de Ciências Naturais (MACN-CONICET). Durante esse período, Jorge teve que reaprender a comer alimentos naturais, nadar em grandes espaços e interagir com outros animais marinhos.
A soltura de Jorge e sua surpreendente rota
Em abril de 2024, Jorge finalmente foi liberado em Mar del Plata, Argentina. Desde então, ele vem sendo monitorado via satélite por pesquisadores. O que surpreendeu a todos foi o desvio que Jorge fez após sua soltura. Ao invés de seguir diretamente para a Bahia, a tartaruga entrou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, tornando-se uma atração para a comunidade local.
“Ele passou pelo Uruguai e, como esperávamos, começou a rumar para a Bahia. Mas, no caminho, entrou na baía e está agora na região da Ilha do Governador”, contou Suzana Guimarães, coordenadora-geral do Projeto Aruanã, que trabalha na conservação das tartarugas marinhas.
A repercussão entre os pescadores e a comunidade
Na Baía de Guanabara, Jorge rapidamente se transformou em um assunto entre os pescadores locais. José Roberto Santos, conhecido como Tinguá, um pescador em Itaoca, São Gonçalo, relata: “Todo mundo quer tirar foto do Jorge. Às vezes, a gente esquece de pescar só pra ver se consegue encontrar ele”.
Os pescadores foram orientados sobre como agir ao encontrar a tartaruga. “Temos um grupo de pesca com o telefone do pessoal do Projeto Aruanã. Se alguém avistar Jorge, avisa na hora. Todos sabem que temos que protegê-lo”, disse Tinguá.
Um símbolo da conservação marinha
O caso de Jorge é estudado como um exemplo de reintrodução bem-sucedida de animais marinhos à natureza. Os dados coletados a partir de seu trajeto são valiosos para entender padrões de migração, áreas de alimentação e os riscos que esses animais enfrentam ao longo de suas jornadas. A história de Jorge não apenas sensibiliza, mas também mobiliza as comunidades locais para a conservação da vida marinha.
Possíveis passos futuros para Jorge
A pesquisa sobre Jorge não termina com sua presença na Baía de Guanabara. “Se conseguirmos contato direto com ele, vamos coletar sangue e avaliar o estado de saúde dele. Se tudo estiver bem, nosso plano é ajudá-lo a seguir caminho rumo à Bahia”, afirma Suzana Guimarães.
Jorge, a tartaruga-cabeçuda baiana, representa a esperança e a luta pela preservação ambiental. Sua trajetória é um lembrete poderoso da interconexão entre o ser humano e a vida marinha, e da importância de cuidarmos do nosso planeta para as futuras gerações. Cada avistamento de Jorge não é apenas uma oportunidade de celebrar a vida, mas também de refletir sobre nossas responsabilidades na conservação dos oceanos e suas criaturas maravilhosas.