Há cerca de 3.800 anos, na antiga cidade de Ur, localizada no que hoje é o sul do Iraque, registros arqueológicos revelam que consumidores já cobravam seus direitos de forma assertiva. Durante escavações no início do século XX, foram encontradas tabuletas de argila com mensagens de clientes irritados com a má qualidade de produtos e atrasos nas entregas, provas de que a insatisfação do consumidor é uma preocupação milenar.
A reclamação mais antiga do mundo
Entre os pertences de um comerciante de cobre chamado Ea-Nasir, fazia parte uma tábua de argila escrita em acádio, sistema cuneiforme, que virou a reclamação mais antiga documentada, segundo o Guinness Book. Essa tábua foi traduzida pelo assiriólogo A. Leo Oppenheim e está atualmente no Museu Britânico, em Londres.
Detalhes da denúncia de Nanni
Nanni, cliente de Ea-Nasir, acusa o comerciante de ter prometido barras de cobre de qualidade, mas ter enviado material ruim e maltratado o mensageiro. “Você ofereceu barras que não eram boas e disse: ‘Se quiser levar, leve; se não quiser, vá embora!’”, relata a mensagem. Além disso, o cliente afirma que sua prata foi retida pelo comerciante, que enviou seus mensageiros por territórios hostis sem nada em troca.
A carta termina com uma ameaça: “A partir de agora, só aceitarei cobre de boa qualidade e irei pessoalmente selecionar as barras em meu quintal”.
Significado histórico da reclamação
Apesar de o desfecho da história entre Nanni e Ea-Nasir ser desconhecido, o registro permanece como uma prova concreta de que a indignação do consumidor é, literalmente, milenar. Cá entre nós, é fácil imaginar que, nos dias atuais, alguém faria um escândalo semelhante ou pior, dada a persistência de questões relacionadas ao direito do consumidor.
Confira o trecho da antiga reclamação
“Diga ao Ea-Nasir: Nanni envia a seguinte mensagem: Quando você veio, você disse a mim: ‘Eu darei lingotes de cobre de qualidade de Gimil-Sin (quando ele vier)’. Você os deixou, mas não cumpriu sua promessa. Enviou lingotes de má qualidade, que não eram bons para meu mensageiro (Sit-Sin), e ainda disse: ‘Se você quiser levá-los, pegue-os; se não, vá embora!’”
“Por que trata alguém como eu com tanto desprezo? Enviei senhores mensageiros para coletar meu dinheiro, e você me reteve tudo, enviando-os de volta sem nada, através de território inimigo. Isto é inadmissível entre comerciantes de Telmun. Você só trata meu mensageiro com desprezo! Por causa daquela mina de prata, que deve (?) você se acha livre para falar assim, enquanto entreguei ao palácio 1.080 libras de cobre, e Umi-abum também deu a mesma quantidade, em um acordo formal que foi registrado no templo de Samas.”
“Você reteve minha bolsa de cobre e agora deve restituir meu dinheiro na íntegra. A partir de hoje, não aceitarei mais cobre seu que não seja de qualidade, e vou selecionar pessoalmente os lingotes no meu quintal. Exercerei meu direito de rejeição, pois fui tratado com desprezo.”
Mais detalhes dessa história milenar podem ser acessados no artigo da Globo.