Em um país que já conheceu a fome e a desesperança, toda ação que busca aliviar a necessidade de nossa gente é celebrada. Contudo, quando a assistência social se torna pano de fundo para malfeitos, devemos nos levantar em defesa da justiça e da integridade. O recente caso do contrato polêmico de R$ 12,1 milhões entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e a Super Cesta Básica de Alimentos nos remete a esta triste realidade.
Essa empresa, cuja suspeita de fraude em licitações é tão persistente quanto uma sombra em dia ensolarado, parece ter seduzido novamente a inocência ou a negligência do poder público. O ministério estava ciente das suspeitas de irregularidades em torno da Super Cesta Básica de Alimentos. Mesmo assim, optou por contratar a empresa, afirmando agora que “não houve cumprimento contratual”. A questão, entretanto, permanece: por que contratá-la em primeiro lugar?
É aqui que reside o cerne de nossa indignação. Como pode uma instituição que já estava sob os holofotes do Tribunal de Contas da União (TCU) ser novamente contratada, ainda que em caráter emergencial, sem um escrutínio mais profundo? A Super Cesta Básica de Alimentos, que já havia sido proibida de contratar com o poder público em 2020, parece ter encontrado maneiras de driblar a vigilância de nossos guardiões da moralidade pública.
A defesa do secretário-executivo do ministério, Osmar Ribeiro de Almeida Júnior, baseia-se na urgência do caso e no fato de que a empresa apresentou todas as certidões necessárias. No entanto, tais argumentos desmoronam frente à gravidade das suspeitas levantadas pelo TCU. A mera apresentação de certidões não deve ser a única bússola para a contratação, principalmente quando o rastro de irregularidades persiste.
Em meio a essa controvérsia, a figura dos Ianomâmis surge como uma lembrança amarga de quem realmente perde nessa trama: nossa população mais vulnerável. É necessário, então, questionar se a urgência do caso justifica a negligência com a diligência. Ou se o que estamos assistindo é, na verdade, a justificativa sendo usada como uma cortina de fumaça para obscurecer a verdade.
O caso da Super Cesta Básica de Alimentos nos faz lembrar da importância da ética e da responsabilidade na condução dos negócios públicos. No fim das contas, o que está em jogo é mais do que a entrega de cestas básicas; é a confiança da população na capacidade do governo de fazer a coisa certa, mesmo em tempos de crise.
Neste jornal, defendemos a justiça, a transparência e a coragem para fazer o que é certo, mesmo quando isso não é fácil. Esperamos que este caso seja tratado com a seriedade que merece, que as investigações sejam profundas e que sejam adotadas medidas para evitar a repetição de tais práticas no futuro.
A sociedade brasileira tem o direito de esperar que seus recursos sejam usados de maneira eficiente, justa e transparente. Nossos líderes têm o dever de garantir que isso aconteça. Nos resta, portanto, a esperança de que esse episódio traga aprendizado e ação, e não apenas mais um capítulo da longa história de suspeitas e decepções que conhecemos tão bem.