Na última semana, o Exército dos Estados Unidos divulgou um vídeo que pretendia celebrar uma conquista no uso de tecnologia militar, mas que, na verdade, destacou um atraso significativo em relação às tendências globais. O vídeo mostra a realização do primeiro lançamento ao vivo de granadas por um sistema de drone no Grafenwoehr Training Area, na Alemanha, uma inovação que ainda assim deixa muitos críticos questionando a capacidade do Exército em acompanhar a evolução do combate moderno.
O que foi demonstrado
No vídeo, que foi rapidamente deletado das plataformas de mídia social, o exército questionava retoricamente: “Você já viu um drone soltar uma GRANADA?”, antes de exibir uma demonstração em que soldados do 7º Comando de Treinamento do Exército participaram do lançamento. O evento, que envolveu tanto granadas de fragmentação M67 quanto granadas de prática M69, foi caracterizado pelo Major Philip Draper como um “grande passo” na inovação do Exército convencional.
Não obstante, a pergunta sobre a novidade da demonstração é válida, principalmente quando se considera que essa técnica de guerra foi amplamente empregada, especialmente por grupos terroristas como o ISIS durante o combate em Mosul, em 2016 e 2017. Essa evidência levanta uma questão crucial sobre o timing e a percepção do Exército em relação ao que constitui inovação no campo de batalha atual.
A realidade do combate moderno
O uso de drones armados não é uma inovação recente. Grupos não estatais, como cartéis de drogas e facções terroristas, têm adotado essa tecnologia para lançamento de cargas explosivas, demonstrando uma capacidade que os militares tradicionais parecem atrasar em integrar plenamente. Gen. Richard Clarke, ex-chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA, expressou preocupação com este atraso. Uma vez, ele afirmou que a supremacia aérea dos EUA garantiu proteção, mas a proliferação de drones armados muda essa dinâmica.
“Agora, temos essa realidade. Não podemos mais garantir que sempre teremos cobertura aérea,” disse Clarke. Essa mudança é especialmente relevante dada a crescente utilização de drones em conflitos recentes, como o da Ucrânia, onde drones armados têm se tornado uma ferramenta central no combate.
Tendências globais e o futuro do armamento militar
A demonstração do Exército dos EUA em Grafenwoehr é um reflexo não só de uma tentativa de modernização, mas também de um chamado à urgência para que a força-tarefa busque inovar e se atualizar. Diversos especialistas e críticos da indústria militar chamam a atenção para o fato de que, enquanto as forças armadas dos EUA se esforçam para implementar drones em suas operações, outras nações e grupos estão utilizando essa tecnologia de maneiras já consolidadas, tornando-se competitivos em um novo cenário de guerra.
Organizações terroristas e cartéis têm mostrado capacidade não apenas de adaptar drones comercialmente disponíveis, mas também de desenvolver táticas de combate que colocam em risco as tropas estadunidenses. Essa realidade se torna mais alarmante quando se considera que esses sistemas de drones são frequentemente baratos e acessíveis, permitindo que até mesmo grupos não estatais adquiram capacidades militares significativas.
O que vem a seguir
O Exército dos EUA anunciou recentemente mudanças nas políticas voltadas para a integração de drones armados em suas operações. Essas mudanças buscam não só melhorar as capacidades dos soldados em campo, mas também manter a competitividade das forças armadas no cenário global. A expectativa é que mais testes e análises sejam feitos para que as lições aprendidas sejam incorporadas nas estratégias de combate.
Por enquanto, o vídeo que vendia uma imagem de inovação no uso de drones armados acaba, paradoxalmente, por evidenciar o quanto o Exército ainda precisa avançar para acompanhar as tendências modernas da guerra. Uma abordagem mais ágil e a determinação em expandir as capacidades operacionais podem ser necessárias para garantir a segurança e a eficácia no campo de batalha atual.