Nos últimos meses, as demissões em diversas empresas têm gerado preocupação e discussões acaloradas sobre o futuro do trabalho. Enquanto o mercado de ações se mostra forte, muitos se perguntam: por que tantas empresas estão demitindo? Um fenômeno que tem se tornado cada vez mais evidente é a influência da inteligência artificial (IA) nesse cenário. Embora ainda seja incomum que as empresas admitam abertamente que as demissões são causadas pela substituição de funcionários por tecnologia, especialistas afirmam que a realidade pode ser diferente.
Empresas demitindo e o papel silencioso da IA
Recentemente, a IBM se destacou ao admitir que cortou 200 vagas na área de recursos humanos, substituindo esses profissionais por chatbots de IA. O CEO da empresa afirmou que, apesar dessas demissões, a contagem total de funcionários da empresa aumentou, pois a IBM está reinvestindo em outras áreas. Por outro lado, a Klarna, uma fintech, também se tornou um exemplo notável ao declarar que sua força de trabalho foi reduzida em 40%, de quase 5.000 para cerca de 3.000 colaboradores, em parte devido à utilização de IA em suas operações.
Porém, ainda que essas demissões estejam começando a ser associadas à IA, muitos especialistas acreditam que outras empresas também estão implementando essa tecnologia em suas operações, mas sem fazer referências explícitas a isso. Em vez de admitirem que estão substituindo funcionários por IA, optam por usar termos mais vagos como “reestruturação” ou “otimização”.
A estratégia por trás da linguagem utilizada
Christine Inge, instrutora de Desenvolvimento Profissional na Universidade de Harvard, sugere que muitas organizações não estão dispostas a afirmar abertamente que “estão substituindo pessoas por IA”, mesmo que isso seja verdade. Além disso, Jason Leverant, presidente da AtWork Group, ressalta que as empresas estão mais confortáveis em descrever cortes de pessoal como parte de uma estratégia operacional maior, em vez de confrontarem a realidade direta da automação e da IA.
Com os resultados financeiros recentes e sólidos de várias empresas, fica claro que as demissões não são necessariamente um reflexo de dificuldades financeiras. As demissões parecem alinhar-se de forma preocupante ao lançamento de sistemas de IA. Candice Scarborough, diretora de cibersegurança e engenharia da Parsons Corporation, expressou essa preocupação, afirmando que as tecnologias de IA estão sendo introduzidas no ambiente de trabalho como uma justificativa para cortes de empregos.
O que usuários e investidores precisam saber
Muitos setores estão vendo cortes de funções que tradicionalmente dependiam de recursos humanos, como atendimento ao cliente e operações internas. Essa tendência levanta questões sobre a transparência das empresas em relação ao papel da IA na realocação e na eliminação de postos de trabalho. Inge acredita que, ao não serem claros sobre como a IA está afetando os empregos, as empresas arriscam uma reação negativa da força de trabalho, do público e até dos reguladores.
Porém, especialistas também destacam que algumas empresas estão subestimando o que a IA pode fazer. Embora a automação possa abranger 70% a 90% de um processo, sempre haverá a necessidade de um toque humano em certos aspectos, como controle de qualidade e julgamentos críticos. O vice-presidente de vendas e marketing da Connext Global, Taylor Goucher, ressalta que um modelo híbrido que combine humanos e IA pode ser o mais sensato neste momento.
A mudança começa nos freelancers
Nos últimos dois a três anos, freelancers têm sido alguns dos primeiros profissionais afetados por cortes relacionados à IA. Muitos deles recebem a informação de que estão sendo substituídos por ferramentas de IA. Isso tem sido particularmente notável nas áreas de redação, design gráfico e edição de vídeo, mas agora essa mudança está se espalhando para a força de trabalho e funcionários permanentes.
O cenário atual do mercado de trabalho ainda é considerado favorável, mas sinais de desaceleração já estão aparecendo. A taxa de desemprego nos Estados Unidos caiu para 4,1% em junho de 2025, mas especialistas concordam que, com o tempo, as mudanças relacionadas à IA acelerará. De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, 41% dos empregadores globais planejam reduzir suas equipes em até cinco anos devido à automação pela IA.
À medida que empresas começam a adotar a IA em maior escala, a transparência provavelmente aumentará, mas isso pode ser tarde demais para muitos trabalhadores que já perderam seus empregos. Inge conclui que, quando isso ocorrer, a perda de empregos será significativa, e a adaptação se tornará a única alternativa viável para muitos. Nesse contexto, a reflexão sobre a responsabilidade ética das empresas ao lidar com suas forças de trabalho em um mundo cada vez mais automatizado se tornará ainda mais crucial.