Na tarde desta terça-feira (22), tanto a oposição quanto o governo chegaram a um consenso: a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ocorrer a qualquer momento sob a ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A situação gera pânico e incerteza em ambos os lados do espectro político, especialmente considerando que Bolsonaro é atualmente visto como o principal líder da direita no Brasil.
A expectativa de uma prisão iminente
Até recentemente, tanto bolsonaristas quanto petistas previam que uma possível prisão do ex-mandatário ocorresse apenas no final do ano, em novembro. Contudo, a declaração inesperada de Bolsonaro ao deixar o Congresso na segunda-feira (21) alterou essa expectativa. Agora, há uma crescente avaliação de que sua saída da política pode ocorrer sem que haja um sucessor claro. Isso pode incitar uma luta interna pelo seu espaço.
De acordo com membros influentes do PL, a situação pegou o partido de surpresa. Embora uma prisão de Bolsonaro não seja considerada uma grande surpresa, ela deixaria o PL sem uma direção definida e sem estratégias adequadas para lidar com as consequências.
Preparativos para um possível tumulto
Correligionários de Bolsonaro que estão em Brasília após uma reunião na segunda-feira permanecem em “plantão” na capital, prontos para responder rapidamente caso o ex-presidente seja preso. A ala majoritária do PL está ciente de que não há motivos jurídicos sólidos que justifiquem a prisão, mas argumenta que a questão é política.
Enquanto isso, a ala minoritária do partido acredita que a decisão de Moraes em dar 24 horas para a defesa de Bolsonaro se manifestar demonstra que não há uma vontade clara de prendê-lo neste momento.
Mobilização da esquerda
Por outro lado, do lado da oposição, a percepção do PT é bastante incisiva. O líder do partido na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), declarou que vê a prisão de Bolsonaro como inevitável. Para ele, a conduta do ex-presidente, incluindo ataques sistemáticos às instituições e “obstrução de justiça”, facilita a necessidade de uma prisão preventiva.
Farias descreve as ações de Bolsonaro como uma tentativa de deslegitimar as instituições do Brasil e tem chamado atenção para a “organização criminosa” que, segundo ele, atua contra o país.
Implicações políticas para o governo
O governo, representado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também não possui uma estratégia clara diante da possibilidade de prisão de Bolsonaro. Informações de bastidores indicam que há duas visões distintas: enquanto alguns acreditam que a prisão arrefecerá a polarização política, outros temem que isso possa intensificar a desarticulação do campo da direita e causar uma guerra interna entre seus membros.
A situação é ainda mais complexa, considerando os recentes desentendimentos entre representantes da direita, como a briga entre Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que se tornaram públicas.
Risco de prisão e cautelares
Num desdobramento recente, Moraes determinou que os advogados de Bolsonaro apresentem esclarecimentos sobre descumprimentos a medidas cautelares. Se a defesa não se manifestar em 24 horas, o ex-presidente poderá ser preso imediatamente. Dentre as cautelares impostas a ele estão: o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibições de contato com certos indivíduos e mídias sociais.
Um dos momentos marcantes nesta crise foi quando Bolsonaro, ao deixar uma reunião no Congresso, mostrou sua tornozeleira e fez declarações à imprensa, desafiando a ordem de não se manifestar publicamente. “Não roubei cofres públicos, não matei ninguém, não trafiquei ninguém”, disse, em um desabafo que reflete a tensão que permeia sua situação atual.
Contexto internacional
A atual posição de Bolsonaro está também atrelada a questões internacionais. O ministro Alexandre de Moraes vinculou as cautelares ao contexto de políticas que podem impactar a soberania nacional, em especial considerando as sanções do governo americano lideradas por Donald Trump, supostamente instigadas por Bolsonaro e seu filho, Eduardo, durante suas viagens aos Estados Unidos.
Essa combinação de elementos, que envolve riscos de prisões, disputas internas e uma crescente pressão internacional, sinaliza que o desenvolvimento da situação de Bolsonaro não apenas moldará o futuro do PL, mas do panorama político brasileiro em geral.