Segundo pesquisa do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.Br), oito em cada dez brasileiros usam redes sociais com frequência. Enquanto navega, você está sendo monitorado por diversas camadas de coleta de dados que vão muito além do que fornece conscientemente às plataformas.
As camadas de coleta de dados nas redes sociais
Informações básicas e comportamento digital
Essas plataformas coletam dados na camada “zerésima”, que inclui informações que fornecemos ao criar nossos perfis — nome, idade, interesses, contatos. Além disso, monitoram nossas ações, como o que curtimos, comentamos, assistimos e o que passamos mais tempo acessando.
Inferências comportamentais e perfis publicitários
Esses padrões comportamentais são cruzados com dados de outros usuários para inferir gostos, desejos e traços de personalidade. Os chamados “dados de primeira ordem” são usados para montar perfis detalhados, vendidos a anunciantes por meio de leilões ultrarrápidos, que acontecem em microssegundos.
Cookies de terceiros e their impacto invasivo
Há ainda os cookies de terceiros, que perseguem o usuário de um site a outro, identificando-o através de pequenos arquivos armazenados no navegador. Essas informações são usadas para criar um diário da navegação, cruzando dados de diferentes plataformas e aumentando o alcance de campanhas publicitárias.
Risco de uso indevido e vazamentos
Dados coletados dessa forma alimentam bancos de dados que muitas vezes são vendidos sem o conhecimento do usuário, incluindo informações sensíveis, como dados bancários, de saúde ou de comportamento. Esses bancos são utilizados por “corretores de dados” que atuam sem relação direta com o usuário.
O algoritmo e a personalização de conteúdo
As plataformas se empenham em manter o usuário engajado por mais tempo, criando uma bolha de estímulos personalizados. Quanto mais tempo passa na rede, mais dados são coletados, e mais adaptado fica o conteúdo exibido, alimentando ciclos viciosos que reforçam as próprias bolhas.
Risco de extremismos e fake news
Algoritmos favorecem conteúdos emocionalmente carregados, como notícias com forte carga de raiva, já que esses estilos geram mais engajamento. Especialistas como Zeynep Tufekci alertam para o avanço gradual do usuário para conteúdos cada vez mais extremos, potencializando riscos de extremismo.
IA generativa e suas implicações
A inteligência artificial, especialmente na forma de aprendizado de máquina, já personaliza recomendações para redes sociais, Netflix e outras plataformas. Com a IA generativa, esse cenário se torna mais complexo, pois máquinas produzem conteúdos — vídeos, textos, áudios — em escala, muitas vezes com informações falsas.
Perigos da desinformação e fake news
Modelos de IA geram textos convincentes, numa espécie de “máquina de encher linguística”, que aumenta o risco de disseminar notícias falsas. O uso inadequado dessas tecnologias pode alimentar ciclos de desinformação de difícil controle.
Urgência por transparência e regulação
Especialistas defendem a necessidade de obrigar as plataformas a abrir seus algoritmos para auditorias, além de liberar dados de postagens para análise pública. A transparência ajudaria a entender quem visualiza o quê, por que e quem financia as ações na rede.
A regulamentação de influenciadores e redes alternativas
Outra frente importante é a regulamentação de influenciadores que atuam sem regras claras, explorando a relação de confiança das pessoas. Plataformas como o Bluesky propõem modelos menos invasivos, sem algoritmos de viralização ou interação baseada em anúncios.
Construindo uma relação mais saudável com as redes
Para combater esses efeitos, é fundamental que os usuários aprendam a entender o funcionamento das plataformas, exijam transparência e apoiem regulações. Além disso, promover o diálogo olho no olho e desconectar-se das telas ainda são estratégias essenciais para resgatar o sentido da vida offline.
Como ressalta Marcelo Soares, professor de jornalismo de dados na Unicamp, é preciso refletir sobre o impacto das redes sociais na nossa sociedade e buscar alternativas que priorizem ambientes mais saudáveis para o debate público.