A hidroelétrica binacional de Itaipu, que produz cerca de 9% da energia consumida no Brasil, está estudando uma possível ampliação de 10% no número de suas turbinas geradoras. A iniciativa ocorre devido à projeção de que o Paraguai consumirá toda a energia produzida pela usina, deixando de exportar o excedente ao Brasil.
Itaipu avalia expansão de usinas para atender ao aumento da demanda paraguaia
Segundo o diretor-geral da Itaipu, Enio Verri, a instituição está realizando estudos técnicos, sociais e ambientais para avaliar a viabilidade da construção de duas novas unidades geradoras. Atualmente, a usina possui 20 turbinas com potência instalada de 14 mil megawatts (MW), cada uma com capacidade de 700 MW, e espaço para ampliar em mais duas turbinas na estrutura da barragem do Rio Paraná.
“Estamos agora com a nossa equipe dando uma olhada nisso”, afirmou Verri, destacando que a ampliação não significa necessariamente aumento na capacidade de geração em 10%, pois pode envolver avanços tecnológicos ou uso de turbinas com menor ou maior produtividade.
Diagnóstico de demanda e fatores de crescimento
O crescimento da demanda por energia no Paraguai está ligado ao aumento da atividade econômica, uso crescente de data centers e atividade de mineração de criptomoedas — que requer computadores de alta potência e consumo energético elevado. O Paraguai, que atualmente utiliza aproximadamente 31% da energia gerada pela Itaipu, projeta atingir 50% até 2035, conforme a Administradora Nacional de Eletricidade.
“Tivemos no ano passado um crescimento superior a 14% no consumo de energia, sobretudo por causa da mineração de criptomoedas e dos data centers em expansão”, explicou Hugo Zárate, diretor técnico paraguaio de Itaipu.
Questões ambientais, sociais e econômicas envolvidas na ampliação
Apesar de considerar a ampliação “inevitável” devido ao crescimento da demanda, Verri ressaltou que o projeto ainda não possui viabilidade econômica ou consenso político definido. Para isso, será necessário um amplo estudo que envolva o impacto ambiental, social e uma possível decisão conjunta entre os governos do Brasil e Paraguai.
Ele destacou que, atualmente, a usina não pretende aumentar o nível do reservatório, que hoje cobre uma área de 1.350 km² e volume de 29 bilhões de metros cúbicos de água, devido às implicações sobre comunidades locais e o meio ambiente. “Isso envolve um grande estudo estratégico porque envolve políticas ambientais, políticas sociais e as comunidades que serão atingidas”, afirmou.
Perspectivas futuras e financiamento
Verri explicou que, embora a ampliação seja considerada “inevitável”, ela “não pode sair do papel agora por falta de viabilidade econômica”. O investimento provável deve ser financiado por empréstimos de longo prazo, em instituições de fomento, como o Banco Mundial e o BNDES, com pagamento via tarifa de energia.
“Valor pequeno, você mantém isso na tarifa como custeio e, com isso, consegue pagar o financiamento das duas usinas”, afirmou. No entanto, a realização do projeto também depende de acordos políticos e parlamentares entre Brasil e Paraguai.
O papel do acordo binacional na gestão de Itaipu
A usina de Itaipu, criada há 50 anos, é um projeto binacional. Brasil e Paraguai dividem igualmente a energia gerada, tanto em consumo quanto na administração. Cada país possui seu diretor-geral, e o tratado que regem a usina determina que a energia não consumida por um pode ser vendida ao outro por preço de custo.
Atualmente, o Brasil responde por 69% do consumo da energia gerada, enquanto o Paraguai consome 31%. Para o diretor técnico paraguaio, Hugo Zárate, a projeção é que o Paraguai atinja 50% de uso da energia até 2035, devido à crescente demanda por atividades como mineração de criptomoedas e instalação de data centers.
Impactos e considerações finais
Enio Verri reforçou que o aumento crescente no consumo de energia paraguaia, embora importante, não representa uma ameaça à matriz energética brasileira, pois o Brasil também investe em energias renováveis, como solar e eólica, especialmente na região Nordeste, onde há excesso de oferta intermitente.
“Estamos crescendo a oferta de energias renováveis intermitentes, o que ajuda a equilibrar o sistema”, concluiu. A avaliação da ampliação em Itaipu segue em análise, com decisões a serem tomadas no médio e longo prazo, considerando o cenário energético regional.
*A reportagem foi realizada a convite da Itaipu Binacional.