A Igreja Católica no Zimbabwe está enfrentando um problema significativo: a escassez de vocações ao sacerdócio. Nos últimos dez anos, o número de candidatos ao Seminário Maior tem diminuído de maneira alarmante, refletindo uma crise não apenas de fé, mas também de estruturas sociais e familiares no país. O mês de julho, tradicionalmente dedicado à oração e às campanhas de promoção vocacional, ganha um peso ainda maior neste contexto desafiador.
A história da evangelização no Zimbabwe
A missão da Igreja católica no Zimbabwe começou há mais de quatro séculos, mas foi a chegada dos missionários jesuítas, em 1879, que estabeleceu a verdadeira evangelização. Durante décadas, o crescimento da Igreja esteve intrinsicamente ligado ao trabalho dos missionários. Contudo, na década de 1930, reconhecendo a necessidade de um clero local, os bispos iniciaram a formação de vocações locais, culminando na fundação do Seminário de Chishawasha em 1936.
Crescimento das vocações nos anos 90
O Seminário de Chishawasha rapidamente se tornou uma referência para a formação de sacerdotes. Na década de 1990, a Igreja católica no Zimbabwe viveu um boom de vocações, levando à criação do Seminário Maior de Santo Agostinho em Bulawayo para atender a demanda crescente. No entanto, nos últimos anos, essa tendência se reverteu, levando ao fechamento do Seminário de Filosofia Santo Agostinho em 2016 devido à baixa nas inscrições.
O cenário atual das vocações
O atual reitor do Seminário Maior de Chishawasha, Padre Bernard Mukwewa, relatou uma queda acentuada no número de seminaristas, que atualmente conta apenas com 95 alunos. Este número é o mais baixo desde o início dos anos 90 e representa um desafio significativo para a Igreja. Na verdade, menos de 30 candidatos se inscreveram para o primeiro ano no seminário, e apenas cerca de 20 foram admitidos. O padre atribui essa crise à desintegração da família tradicional africana, exacerbada por fatores como pobreza, migração em busca de emprego, uso de drogas, conflitos políticos e a morte.
Fatores que agravam a crise
Dom Rudolf Nyandoro, bispo da Diocese de Gweru, também confirmou a preocupação com a diminuição das vocações. Em entrevista recente, ele destacou que a crise econômica e a falta de emprego têm levado os jovens a buscar alternativas na mineração ilegal e em atividades desestruturantes. Além disso, a exigência de um certificado de Nível Avançado como pré-requisito para a admissão no seminário limitou ainda mais o acesso, pois muitos jovens não atendem a essa condição.
Iniciativas para a promoção vocacional
Em resposta a essa crise, os sacerdotes e congregações religiosas estão se mobilizando para promover vocações e encorajar os jovens a discernir seu chamado. A Diocese de Gweru, por exemplo, iniciou uma série de atividades de promoção vocacional, incluindo visitas a escolas católicas e workshops. As famílias também são incentivadas a não desencorajar os filhos a seguir o caminho do sacerdócio, fundamental para a formação de uma nova geração de líderes religiosos.
Reflexões da comunidade católica
A comunidade católica no Zimbabwe está preocupada com o futuro da Igreja, lamentando o fechamento de seminários e o declínio nas inscrições. Muitos acreditam que a falta de compromisso e a materialização dos jovens estão dificultando a resposta a esse chamado. Existem opiniões que apontam para a necessidade de um exemplo de vida mais autêntico dos sacerdotes para atrair novas vocações.
Conforme a Igreja no Zimbabwe celebra o mês das vocações, é evidente que a resposta a essa crise requer um esforço conjunto de toda a comunidade. A promoção da fé nas famílias e um compromisso renovado com a espiritualidade são essenciais para que novas vocações possam surgir e prosperar em um cenário desafiador. Afinal, as vocações são, em última análise, uma questão de fé e compromisso com o chamado de Deus.
Por fim, Dom Nyandoro encoraja os promotores vocacionais a não perderem a esperança, afirmando que “o Senhor que chama está ativo e consciente das necessidades da sua Igreja”. A mobilização e o engajamento comunitário são fundamentais para superar essa crise e revitalizar as vocações sacerdotais no Zimbabwe.