No cenário político agitado de Washington, o senador Josh Hawley, do Missouri, está no centro de uma controvérsia após votar a favor de um pacote de políticas domésticas que resultou em um corte de cerca de US$ 1 trilhão no Medicaid. Apenas duas semanas depois, ele apresentou um projeto de lei para reverter parte desses cortes, gerando reações diversas e críticas por sua aparente contradição.
A declaração polêmica de Hawley
“Agora é a hora de impedir que futuros cortes no Medicaid entrem em vigor”, declarou Hawley em uma nota sobre seu novo projeto de lei. Sua declaração gerou risadas e provocações, principalmente do senador Chris Coons, do Delaware, que questionou em uma postagem nas redes sociais: “Só para eu entender… ele está introduzindo um projeto de lei para revogar o projeto de lei que ele votou a favor há duas semanas?”
Motivações e contradições
Hawley justificou seu voto a favor do pacote, afirmando que, apesar dos cortes no Medicaid, a medida traria mais recursos hospitalares para o Missouri nos primeiros quatro anos. “Você não pode conseguir tudo o que deseja em uma única legislação. Gosto de muitas coisas que fizemos. Não gosto de algumas delas”, disse ele a repórteres após a apresentação de seu projeto.
Essa decisão reflete uma tendência crescente entre os legisladores republicanos durante o segundo mandato do ex-presidente Donald Trump. Muitos deles têm assinado projetos de lei que consideram problemáticos, mas ainda assim votam a favor, temendo as repercussões políticas de se opor a Trump.
Tensões dentro do Partido Republicano
A dinâmica entre os membros do Partido Republicano se tornou mais pronunciada, especialmente entre o ultraconservador House Freedom Caucus, que frequentemente ameaça votar contra projetos até que a pressão de Trump os convença a mudar de posição. O pacote de medidas de Trump, que se espera que adicione US$ 3,3 trilhões à dívida nacional ao longo de dez anos, foi um foco de críticas entre esses legisladores.
Durante uma reunião, o deputado Ralph Norman, da Carolina do Sul, descreveu a votação no Senado como “inconsciente”, prometendo que “votaria contra aqui e votaria contra no plenário”, mas acabou votando a favor da proposta a pedido da liderança do partido, que garantiu que consideraria propostas futuras para reduzir a dívida.
Resistência e compromissos no Congresso
A resistência a medidas que cortam o financiamento do Medicaid também foi visível entre os republicanos que representam distritos em disputa. O deputado David Valadao, da Califórnia, ameaçou votar contra o pacote se os cortes ao Medicaid fossem mantidos, mas após a votação, foi relatado que o seu pedido foi desconsiderado e ele votou a favor do projeto.
No total, apenas três republicanos que haviam expressado preocupações com os cortes ao Medicaid votaram contra a medida. Entre eles, o senador Thom Tillis, da Carolina do Norte, que decidiu não se candidatar à reeleição, e os senadores Susan Collins, do Maine, e Brian Fitzpatrick, da Pensilvânia, que enfrentarão eleições concorridas em breve.
O impacto das decisões políticas
Além dos cortes ao Medicaid, a recente aprovação de um pacote adicional de cortes de US$ 9 bilhões que atingiu entidades como NPR e PBS chamou a atenção. Vários republicanos expressaram suas preocupações sobre o conteúdo do projeto, destacando os riscos que ele representa para a legislação bipartidária, mas, mesmo assim, a maioria acabou votando a favor.
O senador Roger Wicker, do Mississippi, expressou preocupação com o fato de o Congresso não estar especificando quais programas seriam cortados, entregando essa responsabilidade ao Executivo. “Isso me preocupa – pode ser visto como um desrespeito às responsabilidades constitucionais do poder legislativo”, declarou Wicker, que, apesar de suas reservas, votou a favor do pacote.
À medida que o Congresso continua a se movimentar entre a defesa de interesses eleitorais e as demandas do partido, a prioridade em proteger o Medicaid e a saúde de milhões de cidadãos se torna um debate cada vez mais necessário no cenário político atual.