Brasil, 17 de julho de 2025
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A história obscura que precede o ‘Alligator Alcatraz’ de Trump

Antes do controverso centro de detenção na Flórida, uma prática brutal de trabalho forçado e abuso de presos revelou uma face sombria do estado na década de 1920

O recente centro de detenção de imigrantes apelidado de “Alligator Alcatraz” na Flórida reacendeu debates sobre os abusos aos direitos humanos no país. Inaugurado há menos de um mês, a instalação de 3.000 vagas, situada na região dos Everglades, tem sido alvo de denúncias de condições precárias, incluindo superlotação, falta de assistência médica e refeições insatisfatórias, levando os detentos a uma greve de fome. Autoridades e políticos, como o presidente Donald Trump e o governador Ron DeSantis, celebraram a brutalidade do local, enquanto imagens de higiene deplorável e denúncias de segurança privada alarmaram defensores dos direitos civis.

Conduta violenta e histórias de abuso na história da Flórida

No entanto, o que acontece hoje tem raízes profundas em uma história sombria do estado. Nos anos 1920, uma série de escândalos revelou um sistema de trabalho forçado de presos na Flórida, onde jovens — maioritariamente negros, mas também brancos — eram presos por acusações questionáveis e depois entregues a empresas privadas para trabalho pesado.

Em 1921, Martin Tabert, jovem de 21 anos de Dakota do Norte, foi preso por não possuir passagem durante uma viagem de trem na Flórida. Como seu passaporte tinha sido cancelado por não pagamento de uma multa de 25 dólares, ele acabou sendo levado à força pela polícia. Como muitos imigrantes e trabalhadores rurais na época, Tabert foi enviado para trabalhar na madeireira Putnam Lumber Company, servindo 90 dias de trabalho forçado. Semelhante ao novo centro de detenção, o sistema permitia que empresas privadas lucrassem com a mão de obra de presos, muitas vezes em condições desumanas.

Escândalo nacional e impacto social

Algumas semanas após sua prisão, a família de Tabert recebeu uma carta informando sua morte, resultado de doenças não tratadas enquanto trabalhava nas terras pantanosas da Flórida. Este episódio expôs ao país a brutalidade do sistema penitenciário estadual, levando à indignação pública e a uma crise moral. Amos Pinchot, reformador social, afirmou que o caso colocou “o estado no banco dos réus perante a opinião pública americana”.

Naquele período, a rápida expansão de Florida, impulsionada pelo boom imobiliário e pela construção de ferrovias por figuras como Henry Flagler, criou um cenário de crescimento descontrolado e exploração. A exploração da força de trabalho dos presos era uma prática comum para acelerar obras de infraestrutura e aproveitar os recursos naturais, muitas vezes à custa de vidas humanas.

Entre passado e presente: uma história de abusos persistentes

Assim como o episódio de Martin Tabert revelou as entranhas de um sistema brutalizado, o atual centro de detenção na Florida evidencia uma continuidade de abusos e práticas que desumanizam imigrantes. Ambos os episódios ilustram o lado obscuro de um estado marcado por explorar suas populações mais vulneráveis.

Segundo especialistas, esses exemplos históricos e atuais evidenciam a necessidade de uma reflexão profunda sobre os direitos humanos e a política de encarceramento no país. As condições no “Alligator Alcatraz”e os episódios do passado reforçam a urgência de reformas que protejam os direitos dos presos, independentemente de sua origem ou motivo de detenção.

A história, portanto, não apenas revela os erros do passado, mas também serve de alerta para as consequências de práticas desumanas e da negligência moral do estado perante suas populações mais vulneráveis.

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