Desde o início da pandemia de Covid-19, neurologistas observaram síndromes neurológicas agudas e de longo prazo, bem como sequelas neuropsiquiátricas da doença. No entanto, o impacto do vírus na cognição humana ainda é pouco compreendido.
Visando esclarecer essa questão, pesquisadores do Bangur Institute of Neurosciences, na Índia, e do University Hospital 12 de Octubre, na Espanha, analisaram os efeitos da Covid-19 no comprometimento cognitivo de 14 pacientes com demência preexistente que apresentaram aceleração da deterioração cognitiva após a infecção. Os pacientes tinham diferentes tipos de demência, como Alzheimer, demência vascular, Parkinson e demência frontotemporal variante comportamental.
O estudo revelou que todos os participantes tiveram rápida progressão da doença após a infecção por Covid-19, independentemente do tipo de demência inicial. Os pesquisadores também notaram que a linha de demarcação entre os diferentes tipos de deterioração neurológica se tornou menos clara após a infecção pelo vírus.
Impacto da Covid-19 em pacientes com Alzheimer
A infecção pelo novo coronavírus tem demonstrado efeitos significativos na aceleração da deterioração cognitiva em pacientes com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Após a infecção por Covid-19, os pacientes com Alzheimer apresentaram rápida progressão da doença, indicando que a presença do vírus pode agravar o declínio cognitivo e intensificar os sintomas já existentes. Essa aceleração destaca a importância de compreender melhor o impacto da Covid-19 na cognição humana e de proteger os pacientes com condições neurodegenerativas preexistentes durante a pandemia.
Os resultados indicam que as características de um tipo específico de demência podem mudar após a infecção, com as demências degenerativas e vasculares começando a se comportar como demência mista. Em pacientes com demência de progressão lenta que eram previamente estáveis cognitivamente, houve um curso de deterioração rápida e agressiva.
“À medida que o envelhecimento da população e o aumento da demência ocorrem em escala global, é essencial reconhecer urgentemente os padrões de déficits cognitivos relacionados à Covid-19 para distinguir entre as disfunções cognitivas diretamente associadas ao vírus e outros tipos de demência. Esse entendimento será fundamental para influenciar pesquisas futuras sobre demência”, afirmou o Dr. Souvik Dubey, do Departamento de Neuromedicina do Bangur Institute of Neurosciences (BIN) e principal investigador do estudo.
Cérebros perdem a capacidade de resistir à Covid-19
Os achados sugerem que cérebros já comprometidos têm pouca defesa para resistir a um novo ataque, como o provocado pelo Sars-CoV-2. Diante disso, os pesquisadores propõem a substituição do termo “névoa cerebral” por “FADE-IN MEMORY”, que engloba fadiga, diminuição da fluência, déficit de atenção, depressão, disfunção executiva, velocidade de processamento de informações diminuída e comprometimento da memória subcortical.
O médico Souvik Dubey, do Departamento de Neuromedicina do Bangur Institute of Neurosciences e investigador principal do estudo, destaca a importância do reconhecimento de padrões de déficits cognitivos associados à Covid-19 para diferenciar entre os prejuízos cognitivos relacionados ao vírus e outros tipos de demência. Esse entendimento será crucial para futuras pesquisas sobre demência.
Fonte: Jornal O GLOBO