Durante reunião em Brasília nesta semana, ministros, empresários e representantes do setor produtivo reforçaram a necessidade de que a diplomacia brasileira tente adiar por 90 dias a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos. A medida foi anunciada pelo governo americano e ameaça prejudicar a competitividade da indústria brasileira, especialmente a aeroespacial, têxtil e de alimentos.
Negociações e expectativa de suspensão da tarifa de 50%
De acordo com participantes do encontro, o principal objetivo é esgotar as negociações com os EUA antes de recorrer a retaliações. Nenhum representante se posicionou a favor da utilização imediata da lei de reciprocidade para retaliar Washington. Segundo informações de representantes do setor, a diplomacia deve ser o caminho prioritário para resolver o impasse.
O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, afirmou que há confiança de que o governo brasileiro pode reverter a tarifa por meio de negociações. “Estamos muito confiantes que o governo federal vai buscar uma solução. Acreditamos que a alíquota pode ser revertida com diálogo”, declarou. Ele destacou que, atualmente, a prioridade é a questão econômica, deixando de lado o aspecto político.
Impactos da tarifa na indústria aeronáutica brasileira
Segundo Gomes Neto, a tarifa de 50% equivale a um impacto de até R$ 20 bilhões na Embraer até 2030, com o aumento de custos de fabricação de aproximadamente US$ 50 milhões por unidade. A medida pode levar ao cancelamento de entregas e encomendas, afetando empregos e fornecedores nos EUA e no Brasil.
Analistas avaliam que a Embraer seria uma das empresas mais prejudicadas pelo tarifão. Se a tarifa for aplicada integralmente, estima-se que o custo adicional para a companhia atingir US$ 4 bilhões até 2030, devido ao aumento nas despesas de produção e à perda de competitividade no mercado americano.
Diálogo diplomático como estratégia principal
Durante a reunião, empresários ressaltaram a importância de manter canais diplomáticos abertos com os Estados Unidos. Fernando Pimentel, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, destacou que “a questão política nem chegou a ser abordada no encontro”, enfatizando que o foco deve ser o diálogo, buscando pontos de convergência e evitando medidas de retaliação.
Também ficou decidido que as empresas fornecerão sugestões para a reversão da tarifa ao governo brasileiro, com o objetivo de mostrar aos EUA que a maior taxa sobre produtos brasileiros é prejudicial às duas economias. Segundo Pimentel, “é preciso evitar falatório e focar em pontos de interesse comum”, utilizando a diplomacia para fortalecer o relacionamento econômico.
Consequências para as exportações brasileiras
O setor têxtil, que tinha previsão de aumento nas vendas ao mercado americano, viu suas estimativas suspensas. A expectativa inicial era que as exportações chegassem a US$ 90 milhões em 2025, crescimento de 13% a 14%. No entanto, a tarifa de Donald Trump interrompeu essa projeção. Empresas buscavam novas oportunidades após o impacto de tarifas anteriores sobre os chineses, mas agora enfrentam dificuldades adicionais.
Segundo Pimentel, o mercado de exportação de produtos brasileiros para os EUA representa cerca de US$ 21 bilhões em compras futuras de fornecedores americanos, o que reforça a importância de um acordo diplomático para manter a competitividade da indústria local.
Reuniões em São Paulo e apelo à diplomacia
No Estado de São Paulo, onde o governador Tarcísio de Freitas também conversou com empresários em uma reunião fechada, confirmou-se a busca por soluções por meio do diálogo. O ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que o clima foi de “diálogo construtivo”.
Entre os participantes, esteve também Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, reforçando a importância de canais diplomáticos para a resolução do conflito. Empresários reforçaram que esforços de comunicação direta com Washington são essenciais e que a cooperação deve prevalecer para evitar um cenário de embargo comercial ao Brasil.