O Partido Liberal (PL), sob a liderança de Valdemar Costa Neto, fez um colossal investimento de R$ 49,6 milhões no Instituto Álvaro Valle (IAV) em 2024. Este número impressionante levanta preocupações sobre a transparência e a efetividade do uso dos recursos, especialmente considerando que o instituto se propõe a ser um think tank do partido com o maior fundo eleitoral do Brasil. No entanto, o site da fundação é um reflexo do passado, apresentando um design antiquado e limitadas atualizações desde 2022, quando ofereceu apenas um curso online de direito eleitoral.
Falta de transparência no uso de recursos
De acordo com a legislação brasileira, os partidos políticos devem destinar pelo menos 20% de sua receita para suas fundações de formação política. O PL, no entanto, parece ter encontrado uma brecha nesse regulamento. A fundação recebeu R$ 50 mil mensais como aluguel, mesmo funcionando no mesmo endereço que o partido. Em 2024, o instituto devolveu R$ 34,5 milhões ao PL, referente a “sobras financeiras não utilizadas”.
Uma análise mais profunda revela que o PL recebeu de volta um total de R$ 45,9 milhões do Instituto. O resultado é que a fundação ficou com apenas R$ 3,7 milhões sem um destino claro ou transparente. O site do IAV não fornece informações suficientes para auditar o que foi feito com esse montante significativo.
Além disso, o Instituto Álvaro Valle é presidido por Mariucia Tozatti, ex-secretária-geral do PL e atual assessora parlamentar do deputado estadual Marcos Damásio. A assinatura dos contratos de aluguel entre o PL e a fundação é de Jucivaldo Salazar Pereira, tesoureiro da sigla e conhecido confidente de Valdemar Costa Neto. Essas relações levantam bandeiras vermelhas sobre a governança do instituto.
Despesas questionáveis e investimento duvidoso
De acordo com documentos financeiros enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL arrecadou R$ 1,1 bilhão e gastou R$ 1,2 bilhão em 2024, com uma parte considerável destinada ao IAV. O partido alocou 31,25% de sua verba para a fundação, o que levanta questões sobre a prioridade dada a esse investimento em relação a outras necessidades do partido e da sociedade.
Os dados também indicam que o PL gastou R$ 46 milhões em despesas próprias, com a maior parte desse montante listada como “outras despesas gerais”. Mesmo o gasto com “material de consumo de copa e cozinha” não passa desapercebido, com R$ 87 mil sendo gastos nessa categoria. Isso suscita questionamentos sobre a real aplicação dos recursos financeiros do partido.
Análise crítica e o futuro do PL
As práticas observadas no PL e no Instituto Álvaro Valle levantam preocupações sérias sobre como partidos políticos no Brasil estão usando os fundos eleitorais. A falta de transparência e a aparente nepotismo nas relações de gestão da fundação são características de um sistema que precisa de maiores controles e fiscalizações. Manter a prestação de contas clara e acessível à sociedade é fundamental para garantir a confiança pública nas instituições democráticas.
O Metrópoles tentou contato com o PL para obter uma posição sobre as alegações, mas até o momento, não houve resposta. O espaço permanece aberto para que a sigla se manifeste, pois os eleitores merecem clareza sobre como estão sendo utilizados os recursos que, em última instância, pertencem ao povo brasileiro.
À medida que o cenário político se configura e o país se aproxima de novas eleições, é imperativo que haja um movimento em direção à maior responsabilização e transparência nos gastos das siglas partidárias. O Instituto Álvaro Valle e suas práticas devem ser examinados com um olhar crítico, para que se assegure que os recursos destinados à política são usados de maneira honesta e eficaz.