Numa manhã tensa de segunda-feira (14/7), a audiência virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a suposta trama golpista que visava manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder trouxe à tona revelações sobre as investigações envolvendo as blitze da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante as eleições de 2022. Os réus do núcleo 2 da ação penal se mostraram ativos ao intervir nas oitivas das testemunhas de acusação, evidenciando uma dinâmica intrigante no processo. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, convocou duas testemunhas-chave: o ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, e a ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Ferreira de Alencar.
A atuação dos réus nas oitivas das testemunhas
Durante a audiência, Silvinei e Marília assumiram papéis de “braços” dos seus advogados, orientando-os a realizar perguntas e ressaltar pontos específicos a serem abordados nas declarações das testemunhas. Essa interferência chamou a atenção, uma vez que o áudio das instruções deles “vazava” para a plateia virtual, revelando um possível jogo de poder e estratégia por parte dos réus.
Clebson Ferreira de Paula Vieira e Adiel Pereira Alcântara, convocados como testemunhas por sua colaboração nas investigações, feitos sobre os impactos das blitze da PRF no segundo turno das eleições, se tornaram o foco das intervenções. A principal acusação é de que os réus teriam supostamente dificultado o transporte de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que torna a veracidade e a integridade dos depoimentos ainda mais cruciais para o andamento do caso.
Um dos momentos mais marcantes ocorreu quando Adiel, ex-coordenador de inteligência da PRF, declarou que as ordens sobre fiscalização de ônibus e vans para o Nordeste partiam de Silvinei. Suas afirmações geraram uma reação direta de Silvinei, que solicitou que seu advogado questionasse a validade da declaração, mostrando que a tensão entre as partes era palpável.
Conflitos e desentendimentos durante a audiência
A interação entre as partes se tornou tensa. Durante o depoimento de Clebson, ele expressou sua frustração em resposta a um questionamento repetido pela defesa de Marília, afirmando de maneira incisiva: “não sou burro”. Esse desabafo revela não apenas a pressão sob a qual as testemunhas estavam, mas também o clima carregado que permeava a audiência.
Clebson também relatou que, a pedido de Marília, ele havia mapeado os municípios onde Lula obteve mais de 75% dos votos, utilizando a ferramenta Microsoft Power BI. O testemunho dele insinuou que o relatório, que foi usado para fins ilícitos, havia causado sua desilusão. Quando Clebson fez essa observação, a defesa de Marília o interrompeu, gerando um embate que intensificou ainda mais a dinâmica da audiência.
Outros réus e a presença virtual
Além de Silvinei e Marília, outros réus do núcleo 2 acompanharam a audiência. Marcelo Câmara se conectou diretamente do Complexo Penitenciário da Papuda, enquanto Fernando de Sousa Oliveira, ex-assessor da segurança pública do DF, participava com seu advogado, mas sem intervir. A presença desses réus corrobora a complexidade do caso e a grande rede de implicações legais para diversos agentes públicos e privados envolvidos.
A audiência e a maneira como os réus atuaram evidenciam a complexidade e a delicadeza das investigações que envolvem a PRF e as polêmicas blitze, encapsulando os desafios para a justiça em um contexto politicamente carregado. O desdobramento desse processo deve continuar trazendo à tona novas revelações e tensões à medida que mais testemunhas forem ouvidas.
Este caso, que está sendo acompanhado de perto pela mídia e pela população, promete ter implicações duradouras não apenas para os envolvidos, mas também para a política nacional, refletindo as divisões que permeiam a sociedade brasileira.