Brasil, 16 de julho de 2025
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Minha paciente de 11 anos estava grávida — o que precisamos saber sobre ser ‘pro-vida’

Este relato revela a realidade de uma criança de 11 anos que precisou de aborto após violência, reafirmando que ninguém deve ser forçado a ter bebê

Numa manhã de dezembro, acordei ouvindo juízes questionar advogados na Suprema Corte, numa discussão que pode tirar direitos reprodutivos de muitas pessoas.

Desde então, tenho refletido sobre como essas decisões afetam vidas reais, como a de Sophia, uma menina de 11 anos que enfrentei como médica. Seu caso exemplifica por que a defesa do direito ao aborto é uma questão de proteção à vida e à dignidade.

O caso de Sophia e o direito à escolha

Sophia foi minha paciente na primeira fase da minha carreira em atenção primária. Ela chegou ao consultório com queixas de dor no estômago e, ao investigar sua história menstrual, descobri que ela tinha menstruado e depois parado. Decidi fazer um teste de gravidez, mesmo sabendo que a possibilidade era remota para uma menina tão nova.

Quando o resultado deu positivo, meu coração gelou. Ela tinha apenas 11 anos — uma criança, incapaz de compreender completamente o que significava aquela gravidez.

Com Sophia, expliquei com calma a situação para sua mãe, que inicialmente não entendeu a seriedade. Logo, veio o choque, lágrimas, uma ligação para o pai e a presença de um sacerdote. A cena parecia um pesadelo: pais desesperados, uma família em crise, a polícia chegando para investigar o abuso sexual que Sophia sofrera.

Protegendo a vida e os direitos de Sophia

Naquele momento, minha prioridade era garantir que Sophia estivesse segura, física e emocionalmente. Ela precisava de um aborto, urgente, para evitar que sua vida fosse ainda mais ameaçada. E, felizmente, ela teve acesso ao procedimento, apoiada por pessoas que priorizaram seu bem-estar.

Nada justifica forçar uma criança tão pequena a dar à luz. O aborto, naquele caso, foi uma decisão de proteção, uma medida de respeito à sua vida e à sua dignidade. Foi uma escolha “pro-vida”, porque ninguém deve ser obrigado a portar uma gravidez forçada.

Reflexões sobre os direitos reprodutivos

Hoje, Sophia está na casa dos 20 anos. Pergunto-me como ela vai procurar se reconstruir, se confiar novamente, se terá conseguido fazer escolhas livres para sua vida reprodutiva. Uma coisa é certa: sua história refuta os argumentos que defendem uma proibição absoluta ao aborto.

Ela é uma prova de que as políticas que limitam ou proíbem o aborto prejudicam as vidas mais vulneráveis. Em muitos Estados, esses direitos estão sendo retirados, como cascata de leis que parecem querer negar a autonomia de mulheres e meninas.

Vozes que protegem a dignidade

Nosso espaço clínico é pequeno, feito para acolher quem precisa de cuidado, não para debates políticos ou moralistas infundados. Nossa missão é proteger a vida, respeitando a autonomia do paciente.

A decisão de Sophia foi uma decisão de vida. E essa deve ser a única justificativa para o aborto: proteger uma pessoa vulnerável, evitar sofrimento e respeitar sua dignidade.

O compromisso de lutar por espaços seguros

Continuaremos a lutar contra políticas que tentam impor suas ideias na nossa prática, invadindo um espaço sagrado, feito de confiança e cuidado. Porque nenhuma lei deve se sobrepor aos direitos de quem buscar ajuda em um momento de crise.

Este relato é uma lembrança da urgência de defender a dignidade, o direito à saúde e à liberdade de escolha de todas as pessoas. Porque ninguém deve ser forçado a ser pai ou mãe contra sua vontade.

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