Seis meses após sua eleição, o presidente do Líbano, Joseph Aoun, enfrenta o desafio de consolidar sua posição diante de uma crise profunda no país. Apesar de alguns avanços, muitos ainda questionam se suas promessas de mudança serão cumpridas e se ele consegue reconquistar a confiança da comunidade cristã.
As primeiras promessas e expectativas
Ao assumir o cargo em janeiro, Aoun prometeu abordar questões sensíveis, como o desarmamento de militias e a crise econômica. Sua fala inicial despertou esperança, especialmente entre os cristãos, que veem na presidência uma oportunidade de maior representação e defesa de seus interesses.
Segundo o pesquisador Mark Elian, estudante de segurança internacional em Paris, Aoun representa uma figura mais confiável do que outros candidatos. “Ele vem de uma origem que conhece o sofrimento de perto, e sua trajetória no exército deu a muitos a esperança de que poderia estabilizar o país”, afirmou.
Conquistas e desafios no mandato
Elian cita alguns avanços sob a presidência de Aoun, como a reaproximação com países árabes e ocidentais e a realização das eleições municipais em dia. Além disso, a nomeação de um novo governador para o banco central indicaria uma disposição a enfrentar a crise financeira.
Porém, o próprio presidente admitiu que muitos compromissos ainda não foram cumpridos. A principal dificuldade, segundo Elian, é o conflito em relação ao controle das armas e a retirada de forças estrangeiras do Sul do Líbano. Essencialmente, Aoun precisa não apenas prometer, mas concretizar ações que denotem mudança real no regime e na segurança do país.
A crise bancária e as limitações institucionais
Um dos fatores que mais afetam a popularidade de Aoun é a crise do setor bancário, que desde 2019 implanta controles de capitais e destrói as poupanças da população. Apesar das reformas pontuais, a recuperação completa permanece distante. Aoun sinalizou disposição para mudanças, mas ainda não foi suficiente para reverter a desconfiança.
Joy Lahoud, advogado libanês, observa que a incapacidade do presidente de ampliar seus poderes é uma limitação estrutural. “Muitos temas dependem do parlamento e do governo, e o presidente tem um papel limitado na força de decisão”, explicou. Para Lahoud, há uma oportunidade histórica para mudar esse cenário, mas ela exige reformas constitucionais profundas.
O papel da Igreja e a visão do sacerdote
Para o padre Maronite Danny Dergham, Aoun é uma figura próxima à Igreja, tanto pessoal quanto institucionalmente. “Ele mantém uma forte ligação com o Patriarcado, e sua fé é visível nas ações públicas”, destacou o sacerdote. No entanto, Dergham alertou que esperar grandes mudanças depende das limitações do próprio cargo.
“A promessa de reformas exige uma ação coordenada entre os poderes; o presidente sozinho não consegue alterar o sistema”, afirmou. Ele aconselha Aoun a agir com realismo, considerando as possibilidades e limitações existentes na estrutura política do país.
Perspectivas futuras e esperança de mudança
Apesar dos obstáculos, analistas e líderes religiosos veem em Aoun uma oportunidade de requalificar o papel do país na região. Contudo, é necessário que se avancem reformas que garantam maior representação à comunidade cristã, especialmente na diáspora, e uma maior autonomia para a defesa do território nacional.
A expectativa de que o presidente possa acelerar alterações estruturais é forte, mas o sucesso dependerá da capacidade de articular alianças e de implementar ações concretas, não apenas discursos.
O desejo de mudança é real, mas o tempo, o contexto institucional e a complexidade do cenário libanês determinarão se a esperança dos cristãos e de toda a sociedade será renovada nos próximos meses.
Fonte: ACI MENA