Um levantamento realizado pela República.org apontou uma segregação entre homens e mulheres na 1ª edição do Concurso Público Nacional Unificado (CNU), evidenciando uma desigualdade persistente na ocupação de cargos públicos, especialmente em áreas técnicas e com maior remuneração.
Desigualdade nos setores de tecnologia e economia
A pesquisa revelou que a maior discrepância ocorreu nos blocos relacionados a tecnologia e economia. No bloco 2, dedicado a Tecnologia, Dados e Informações, apenas 8,4% das pessoas aprovadas eram mulheres. No bloco 8, que abrange Setores Econômicos e Regulação, a presença feminina foi de apenas 25,7%. Esses números refletem a concentração predominante de homens em áreas de alta demanda e remuneração.
No bloco de Tecnologia, os cargos mais disputados foram o de Analista em Tecnologia da Informação (ATI), com 300 vagas e um atrativo salário inicial de R$ 11.150,80. Enquanto isso, no bloco econômico, o auge foi para as 50 vagas de Analista de Comércio Exterior (ACE), que oferecem um salário inicial de R$ 20.924,80.
Contrapondo essa situação, o bloco 5, que engloba as áreas de Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Direitos, foi o único a registrar uma maioria feminina, com 60,3% de mulheres aprovadas. O cargo de Analista de Políticas Sociais (ATPS) se destacou nesse grupo, com 460 oportunidades e um salário inicial de R$ 8.336,82.
Urgência na discussão sobre segregação horizontal
Segundo Paula Frias, coordenadora de dados do República.org, os resultados do CNU evidenciam a necessidade urgente de debater a segregação horizontal entre homens e mulheres no setor público, além de desenvolver estratégias concretas para mudar esse panorama. “Essa separação não apenas reforça estereótipos de gênero, mas também amplia as disparidades salariais no serviço público”, destaca Frias.
Ela alerta que essa divisão perpetua estereótipos e contribui significativamente para a desigualdade salarial, pois áreas tradicionalmente masculinas, como tecnologia e finanças, oferecem melhores remunerações. A mensagem é clara: a falta de representatividade feminina em setores de alto prestígio deve ser abordada com seriedade e compromisso.
Iniciativas para promover a igualdade
Diante do cenário exposto, a reserva de 50% das vagas para mulheres na segunda fase do CNU pode ser considerada um avanço, mas Paula Frias ressalta que isso não é suficiente sem a implementação de mecanismos eficazes de acompanhamento. “A reserva pode contribuir, mas é fundamental monitorar as ingressantes, visto que essa reserva ocorrerá apenas em uma fase do concurso”, explica.
Ela observa que garantir o acesso é apenas uma parte da solução. É necessário que as políticas públicas promovam um ambiente propício para a permanência e o avanço das mulheres em áreas onde ainda são minoria. “As mulheres frequentemente enfrentam desafios adicionais, como as jornadas duplas e triplas, que dificultam a dedicação aos estudos”, afirma.
Para que haja mudanças reais, o governo deve analisar cada etapa dos concursos públicos para entender em que fases as mulheres estão sendo excluídas. “É essencial verificar a proporção em que mulheres estão sendo afastadas ao longo do processo seletivo”, enfatiza Frias.
Participação feminina nos órgãos públicos
A participação das mulheres nos órgãos públicos precisa ser constantemente avaliada e promovida. A equidade de gênero é um tema que deve transcender palestras e promessas, tornando-se uma ação concreta e efetiva nas políticas de governo.
Detalhes sobre a segunda edição do CNU
- A segunda edição do concurso oferecerá 3.652 vagas, abrangendo 32 órgãos federais, um aumento em comparação com a edição anterior.
- Agora, as mulheres terão mais oportunidades de avançar para a segunda fase do certame.
- Os cargos estarão agrupados em nove blocos temáticos e o edital manterá uma sistemática de inscrição unificada.
- As provas, objetivas e discursivas, ocorrerão em dois dias: 5 de outubro e 7 de dezembro.
Equiparação de vagas e desafios que persistem
A ministra da Gestão, Esther Dweck, destaca que a medida não é uma simples reserva de vagas, mas sim uma tentativa de garantir que o percentual de mulheres que passa da primeira para a segunda fase seja equiparado ao dos homens. Ela reconhece que a dupla ou tripla jornada enfrentada por muitas mulheres impacta diretamente suas chances de sucesso nos concursos públicos.
A desigualdade no acesso às oportunidades é um tema de grande relevância e deve ser abordado com seriedade por todas as esferas governamentais e com o envolvimento da sociedade civil. A equidade de gênero não pode ser vista como uma mera obrigação, mas como um direito que deve ser promovido em todas as áreas do serviço público.