Esta semana, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos divulgou quase 11 horas de filmagens de vigilância que descreveu como “brutas”, capturadas por uma câmera posicionada perto da cela de Jeffrey Epstein na noite anterior à sua morte. A liberação tinha como objetivo desmascarar teorias da conspiração sobre o aparente suicídio de Epstein sob custódia federal. No entanto, em vez de apaziguar essas suspeitas, a revelação pode acabar alimentando-as ainda mais.
A polêmica dos vídeos “brutos”
Dados de metadados incorporados no vídeo, analisados por especialistas em forense de vídeo, mostram que, em vez de um exportação direta do sistema de vigilância prisional, as filmagens foram alteradas, provavelmente utilizando a ferramenta de edição profissional Adobe Premiere Pro. O arquivo parece ter sido montado a partir de pelo menos dois clipes de origem, salvo várias vezes, exportado e, em seguida, carregado no site do DOJ sob a proposta de ser “filmagem bruta”.
Especialistas alertam que não está claro o que exatamente foi modificado e que os metadados não comprovam manipulação enganosa. O vídeo pode, na verdade, ter sido apenas processado para a liberação pública usando software disponível, sem alterações além da junção de dois clipes. Contudo, a ausência de uma explicação clara sobre o processamento do arquivo complica a narrativa do Departamento de Justiça.
Teorias da conspiração em ascensão
Em um caso já envolto em desconfiança, a ambiguidade sobre como o arquivo foi processado provavelmente dará combustível novo às teorias da conspiração. “Qualquer aspecto da história oficial que não seja totalmente explicado será cooptado por teóricos da conspiração”, afirma Mike Rothschild, autor que escreve sobre teorias conspiratórias e extremistas. “Portanto, qualquer que seja a sua teoria da conspiração sobre Epstein, o vídeo ajudará a reforçá-la.”
Nos meses que antecederam a publicação conjunta do DOJ e do FBI na segunda-feira, a procuradora-geral Pam Bondi havia prometido a liberação de registros relacionados a Epstein, aumentando as expectativas de que novos e potenciais detalhes incriminadores sobre a morte do financista desgraçado e seus laços com figuras poderosas poderiam surgir. Contudo, ao invés de revelar novas informações, o documento na verdade confirmou conclusões já alcançadas anos antes: que Epstein foi encontrado em uma cela na cidade de Manhattan no dia 10 de agosto de 2019 e morreu por suicídio enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual.
Análise das filmagens
Para apoiar suas conclusões, o FBI revisou filmagens de vigilância sobre a área comum da Unidade de Habitação Especial (SHU) do Centro de Correção Metropolitano (MCC), onde Epstein estava detido. O FBI aprimorou as filmagens ajustando contraste, cor e nitidez, e liberou tanto a versão melhorada quanto a que descreveu como a versão “bruta”. Ambas parecem ter sido processadas usando Adobe Premiere e incluem muitos dos mesmos metadados.
Trabalhando com dois especialistas independentes em forense de vídeo, a WIRED examinou os arquivos de 21 gigabytes liberados pelo DOJ. Usando uma ferramenta de metadados, os repórteres analisaram tanto dados do formato de imagem intercambiável (EXIF) quanto da plataforma de metadados extensível (XMP) para identificar sinais de pós-processamento.
Implicações dos metadados
O arquivo “bruto” mostra sinais claros de ter sido processado utilizando um produto da Adobe, provavelmente Premiere, com base nos metadados que fazem referência a extensões de arquivos utilizadas pelo software de edição de vídeo. De acordo com especialistas, software da Adobe, incluindo Premiere e Photoshop, deixa vestígios em arquivos exportados, frequentemente incorporando metadados que registram quais ativos foram utilizados e quais ações foram tomadas durante a edição.
No caso em questão, os metadados indicam que o arquivo foi salvo pelo menos quatro vezes ao longo de um período de 23 minutos em 23 de maio de 2025, por uma conta de usuário do Windows chamada “MJCOLE~1.” Os metadados, no entanto, não mostram se as filmagens foram modificadas antes de cada vez que foram salvas. Essa evidência levanta novas questões sobre a autenticidade do material divulgado.
À medida que as teorias da conspiração em torno da morte de Epstein continuam a prosperar, a confiança pública nas instituições e em seus processos de comunicação é indubitavelmente desafiada, fazendo com que o debate sobre transparência e veracidade na divulgação de informações seja mais crucial do que nunca.