As incertezas em torno da tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros desde agosto têm levado empresas de diversos setores a modificar suas estratégias logísticas. Diante do cenário, muitas buscam alternativas para driblar o impacto da medida, que ainda não possui regras claras.
Estratégias de isolamento e alternativas de transporte
De acordo com fontes do setor, uma das ações mais discutidas é o envio de produtos por avião. A Frescatto, maior exportador de pescado do Brasil, planeja embarcar lagosta e peixes tropicais por via aérea nas próximas semanas para escapar da tarifa de 50%. Segundo Rodrigo Barata, diretor de Comércio Exterior da empresa, o transporte aéreo aumenta o custo em aproximadamente 10% para lagosta e até 30% para outros peixes em comparação ao transporte marítimo.
Impacto na competitividade e na produção brasileira
Empresários manifestam preocupação com os efeitos gerados pela tarifa, que ainda não entrou em vigor oficialmente. “Estamos estudando se o valor de 50% começa a contar no momento da saída das mercadorias ou na chegada aos EUA”, explica Barata. A falta de regras claras aumenta a cautela e a postura conservadora, com muitas empresas optando por adiar ou repensar suas negociações.
Perspectivas e dificuldades na negociação com os EUA
Especialistas ressaltam que, caso o Brasil pratique a reciprocidade tarifária, as empresas americanas também buscarão outros fornecedores. Além disso, o país poderá perder poder de barganha em mercados como a China, o que agravaria o impacto econômico. “Para o Brasil, é fundamental evitar uma escalada na guerra tarifária, que pode prejudicar toda a cadeia produtiva”, afirma Simão Pedro de Lima, da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado.
Ações governamentais e busca por novos mercados
O governo brasileiro procura atuar de forma coordenada com representantes do setor produtivo, setor diplomático e órgãos reguladores. A prioridade é negociar com os Estados Unidos para reduzir os efeitos das tarifas ou criar mecanismos de compensação. Enquanto isso, empresas como a Della Foods já aceleraram seus planos de pedidos e embarques, prevendo uma possível suspensão ou aumento de custos.
Segundo Pamela Manfrin, CEO da fabricante de alimentos em pó, há uma corrida contra o tempo para garantir volumes de produção antes de eventuais restrições tarifárias. Ela também destaca que a necessidade de redirecionar estoques pode levar à queda nos preços médios de venda e à pressão sobre as margens. “A implementação de tarifas de 50% praticamente inviabiliza muitas operações, além de gerar insegurança com possíveis retaliações”, comenta.
Implicações para o mercado brasileiro e estratégias futuras
Especialistas alertam que a medida pode impactar a competitividade do Brasil em mercados tradicionais e novos, além de prejudicar os investimentos feitos na relação comercial com os EUA. Apesar de a tarifa ainda não estar formalizada, a expectativa é de que o cenário de incerteza perdure até que sejam esclarecidas as regras de aplicação.
O Brasil busca ampliar sua presença em mercados como China, Taiwan, Coreia, Oriente Médio e Austrália e reforça a necessidade de negociações diplomáticas para evitar prejuízos econômicos mais severos. “O momento exige calma e articulação internacional para proteger os interesses do setor produtivo brasileiro”, conclui Lima.
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