A bancada ruralista, formada em grande parte por parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, manifestou preocupação e embaraço com o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa medida, que pode ser implementada a partir de 1º de agosto, é vista como uma ameaça ao setor agropecuário brasileiro, especialmente para a exportação de laranja, café e carne.
A reação do agro e cenário econômico
Reservadamente, deputados e senadores ligados ao agronegócio admitem que a situação é constrangedora, já que os empresários, na maioria de direita, podem sofrer riscos comerciais decorrentes da postura política de seu próprio líder, Bolsonaro. Trump justificou essa decisão afirmando que é parte de uma “caça às bruxas” que Bolsonaro enfrenta por parte do Poder Judiciário. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) defendeu uma “resposta firme e estratégica” à medida americana.
A partir da decisão de Trump, a preocupação entre os deputados e senadores que participam da FPA foi palpável. Eles evitam fazer críticas abertas à família Bolsonaro, mas concordam que o governo Lula teve um papel no agravamento da relação. Um dos momentos mais problemáticos foi quando Lula defendeu a criação de uma moeda alternativa ao dólar, durante a cúpula dos Brics, ressaltando que “o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar”.
Consequências para o agronegócio brasileiro
A imposição de uma sobretaxa de 50% não afeta apenas a imagem do Brasil, mas também coloca em risco as exportações que totalizaram mais de US$ 40 bilhões no último ano. Os Estados Unidos atuam como o segundo maior parceiro comercial do Brasil, e a relação se concentra em produtos como soja, algodão, siderúrgicos e carne bovina. Parlamentares e associações do setor estão pressionando o governo para que evite aumentar as tensões e explore medidas drásticas, como o uso da Lei da Reciprocidade Econômica.
A referida lei, aprovada em abril deste ano, possibilita ao Brasil responder com sanções comerciais a países que não mantenham uma relação de isonomia econômica. Essa aprovação foi uma resposta às primeiras tarifas impostas por Trump, e embora tenha encontrado resistência entre alguns bolsonaristas, passou por aclamação no Senado e na Câmara.
Diálogo e esperança de mediação
Apesar das tensões, parlamentares da bancada ruralista se mostram abertos ao diálogo, especialmente com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Ele classificou a abordagem americana como “indecente” e ressaltou que está buscando novos mercados para as exportações brasileiras. A FPA acredita que o equilíbrio e a determinação no campo diplomático são essenciais para solucionar a questão sem misturar política e economia.
Pedro Lupion, presidente da FPA, afirmou que a responsabilidade de restaurar as relações diplomáticas com os Estados Unidos recai igualmente sobre o governo federal, que deve trabalhar diligentemente para retomar um caminho que permita uma coexistência pacífica e produtiva no comércio entre as nações. Ele ressaltou que a oposição tem razão em atribuir a deterioração das relações diplomáticas a ações do governo atual.
Perspectivas futuras e novos parceiros comerciais
Especialistas consideram que, independentemente da reabertura do diálogo, a forma como Trump anunciou as tarifas sugere que o Brasil poderá ser forçado a diversificar suas relações comerciais, buscando novos parceiros além dos Estados Unidos. Entre os possíveis aliados estão nações da Europa e da Ásia que poderiam abrir suas portas para os produtos brasileiros, minimizando o impacto do tarifaço e assegurando a continuidade das exportações.
O cenário poli-comercial exige uma análise cuidadosa e estratégia clara de atuação do Brasil neste novo contexto, de modo a garantir os interesses nacionais e a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Assim, a resolução desse embate poderá determinar o futuro do setor e da economia brasileira.