Brasil, 12 de julho de 2025
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“That Made Me Really Angry”: Uma trabalhadora do sexo reage a “Anora” e suas opiniões

No momento atual, o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem recebido aclamação crítica e várias indicações ao Oscar. A produção retrata uma história de uma stripper que casa com um herdeiro russo, abordando temas de sexualidade, poder e relações, gerando debates sobre sua fidelidade à experiência real das profissionais do sexo. Uma dessas opiniões veio de Emma*, uma acompanhante e dançarina de 25 anos, que atua em um clube de strip em Manhattan há dois anos, que expressou sua indignação e críticas em relação à forma como o filme retrata a sua realidade e a da indústria.

Reconhecimento e críticas à representação de Emma no filme

Emma afirmou que muitos dos primeiros cenários do clube mostrados na tela pareciam bastante precisos. “Quando assisti ao início, fiquei imediatamente entediada — o que provavelmente significa que era real, porque parecia que eu estava no trabalho”, disse. Sua reação inicial foi de esperança de que o filme fosse uma representação verdadeira da rotina de uma profissional do sexo. Contudo, ela destacou que percebeu inconsistências na narrativa, especialmente na cena em que Ani, personagem de Madison, está na casa de Vanya e sugere uma relação sexual adicional após já terem cumprido o pagamento.

Perspectivas sobre as atitudes das colegas de trabalho

Ela comentou que ficou extremamente contrariada ao ver as colegas de clube comemorando a suposta noiva de Ani, sem questionar a dependência financeira dela de um homem mais novo e sem autonomia financeira. “Gosto de todas as garotas porque elas não querem depender de ninguém, e quando dependem, fazem escolhas inteligentes”, afirmou. Para Emma, essa representação do “mundo das garotas” no clube não condiz com a realidade, pois o ambiente costuma ser de apoio e solidariedade, não de competitividade destrutiva.

Sobre a personagem Ani e a sua sexualidade na narrativa

Para Emma, o retrato de Ani como uma mulher excessivamente sexualizada após o casamento parece um “fantasia masculina”. “Quando ela passa a atuar como uma mulher extremamente sexual, parece que esse é um desejo do homem que ela se relaciona — que ela mantém essa persona ‘hot’ o tempo todo.” Ela explicou que, na prática, esse comportamento é uma máscara que as profissionais usam no trabalho e que, ao se relacionarem com alguém fora do ambiente, tendem a abandonar essa persona. Emma destacou ainda que essa representação reforça a ideia de que o dinheiro é o único elemento que sustenta a relação, o que a deixou bastante irritada.

Desconfiança e visão sobre relacionamentos na indústria do sexo

Emma refletiu que a narrativa do filme dá uma impressão errada sobre os relacionamentos com clientes sexuais. “Ela acha que o homem tem algum tipo de sentimento real por ela, o que, na minha experiência, é improvável. Nós sabemos que somos facilmente substituíveis e que muitos homens vêm ao clube achando que têm uma conexão emocional ou que podem namorar com a gente.” Ela destacou que, na rotina, é comum meninos jovens e bonitos entrarem no clube esperando um relacionamento ou tentando convencê-las de que são diferentes, o que ela classifica como uma ilusão.

Resistência à idealização do sofrimento na indústria do sexo

Ao comentar sobre o final do filme, Emma enfatizou que a dor e o sofrimento mostrados na narrativa reforçam um estereótipo prejudicial. “Sim, já senti dor na minha trajetória, mas não vem da minha sexualidade, e sim das questões de estabilidade financeira e da falta de respeito na sociedade. A ideia de que uma mulher deve se sentir emocionalmente destruída por um cliente bonito e gentil é um sonho de um homem, não uma experiência real de quem trabalha na área.”

Impacto e reflexões finais

Emma concluiu que o filme perpetua uma visão romantizada e sensacionalista da indústria do sexo e que sua narrativa de tristeza e sofrimento é explorada para gerar empatia e consumo. “As pessoas lucram com o fetiche de uma mulher romântica/masturbada emocionalmente. E isso reforça a ideia de que, se a história é triste, ela é verdadeira. Eu queria que o filme terminasse com ela jogando o número do Igor fora; assim, poderia mostrar que nem tudo se resume ao sofrimento.”

Ela também criticou a representação da personagem como uma “garota má”, dizendo que esse tipo de comportamento não resistiria na indústria real. Para Emma, o que mantém as profissionais no trabalho é a solidariedade entre elas e sua inteligência para tomar decisões financeiras seguras.

Por fim, Emma reforça sua visão de que muitas produções exploram a vulnerabilidade de mulheres na indústria do sexo para obter lucros e reconhecimento, alimentando um imaginário de tristeza e submissão que não condiz com sua experiência real.

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

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