Enquanto as florestas e as cidades foram historicamente tratadas como áreas distintas na diplomacia climática, essa divisão precisa ser superada. Com a COP30 se aproximando, líderes globais e locais reforçam a importância de integrar ações na proteção de florestas tropicais e na sustentabilidade urbana para atingir metas climáticas globais.
Por que é fundamental unir florestas e cidades na agenda climática
A principal plataforma internacional de coordenação da ação contra as mudanças climáticas é a UNFCCC, criada em 1992. No entanto, cidades, responsáveis por mais de 75% do consumo energético e cerca de 70% das emissões globais, permanecem marginalizadas nas negociações formais. Redes como C40, ICLEI e o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima vêm ganhando reconhecimento, mas ainda há um grande potencial de integração.
Especialistas apontam que tratar florestas e áreas urbanas como partes de um mesmo ecossistema — sumidouros e emissores de carbono — possibilitaria um planejamento mais coerente, maior acesso a recursos financeiros e monitoramento eficaz das emissões. Atualmente, menos de 10% dos fundos multilaterais chegam às cidades, enquanto investimentos na conservação florestal também permanecem insuficientes, muitas vezes direcionados a setores mais lucrativos como agricultura e mineração.
Avanços recentes e sinais de mudança na cooperação climática
Na COP28, em Dubai, foi divulgada a primeira Declaração Conjunta sobre Urbanização e Mudanças Climáticas, conectando ações locais ao balanço global. Na COP29, em Baku, mais de 160 países endossaram a Declaração sobre Caminhos Multissetoriais, enfatizando mobilidade sustentável e soluções baseadas na natureza. Além disso, bancos multilaterais comprometeram-se a ampliar o financiamento climático para US$ 120 bilhões até 2030, com foco em infraestrutura urbana sustentável.
No entanto, a participação e o financiamento das cidades ainda são limitados em relação às negociações maiores de governos nacionais. Para avançar na integração entre natureza e urbanização, especialistas defendem ações concretas na COP30, em Belém.
Oportunidades de transformação na COP30
Belém, símbolo da maior floresta tropical do planeta, representa uma oportunidade única de fortalecer a conexão entre conserving florestas e reformar as cidades. Uma medida chave seria o estabelecimento de um ‘Compromisso Floresta–Cidade’ — uma parceria formal entre grandes emissoras metropolitanas e regiões florestais, especialmente na Amazônia, onde ações conjuntas podem potencializar resultados.
Outro passo importante é criar linhas específicas de financiamento para cidades no Fundo Verde para o Clima, com ao menos 20% dos recursos destinados a estratégias integradas. Cidades com mais de um milhão de habitantes deveriam apresentar orçamentos de carbono e uso do solo, promovendo uma expansão urbana inteligente e alinhada à preservação florestal.
Além disso, a institucionalização de um Encontro Ministerial sobre Urbanização e Clima na UNFCCC fortaleceria a coordenação entre governos nacionais e locais, enquanto mecanismos de financiamento misto e plataformas de dados em tempo real ajudariam a acelerar ações verificáveis e garantir transparência.
Integrar a preservação florestal e a gestão urbana é urgente
Dados demonstram que as florestas absorvem cerca de um quarto das emissões globais, mas as cidades continuam sendo grandes geradoras de poluição. Mesmo o desmatamento zero não será suficiente se o crescimento urbano continuar impulsionando a degradação ambiental em outros territórios.
Segundo especialistas, a convergência dessas duas agendas é cientificamente fundamentada e politicamente inteligente. O desfecho na COP30 pode estabelecer um modelo de governança policêntrico e pragmático, que reconheça a interdependência entre natureza e cidades, impulsionando ações concretas e resultados mensuráveis.
O Brasil, sob liderança de Lula, tem a chance de servir de exemplo global ao promover ações integradas de combate ao desmatamento e revitalização urbana. Como afirmou o presidente, a expectativa é de erradicar o desmatamento ilegal até 2030 e transformar as cidades por meio de mobilidade limpa e habitações sustentáveis. Essas metas domésticas podem inspirar uma nova narrativa internacional de cooperação climática, na qual árvores e comunidades urbanas caminhem juntas na mesma direção.
Ao fortalecer a conexão entre florestas e cidades na COP30, o Brasil pode contribuir decisivamente para uma transição climática mais justa e eficiente, mudando o rumo da nossa relação com o planeta.