Na semana passada, a enfermeira e influenciadora Jen Hamilton viralizou ao compartilhar um vídeo no TikTok e Instagram, onde lê passagens de Mateus 25 sobre o ajudar ao próximo, criticando o apoio de alguns cristãos ao movimento MAGA de Donald Trump. A ação gerou debates intensos nas redes sociais, evidenciando o profundo racha na identidade cristã nos Estados Unidos.
O que o vídeo de Hamilton revela sobre a divergência
No vídeo, Hamilton destaca trechos bíblicos como “Quando você alimentou o faminto” e “Quando visitou o preso”, enquanto exibe manchetes de notícias sobre cortes em programas sociais e deportações, apontando como tais ações contrariam os ensinamentos de Jesus sobre compaixão e justiça social. “Eu sou cristã, mas não posso apoiar o MAGA e seguir a Jesus ao mesmo tempo”, afirmou ela, recebendo apoio de seguidores e críticas de apoiadores do movimento.
A reação da comunidade cristã e os conflitos internos
Apenas nas primeiras 24 horas, o vídeo acumulou mais de 8,6 milhões de visualizações no TikTok, gerando milhares de comentários. Muitos elogiaram a postura de Hamilton, que usa a Bíblia para denunciar a hipocrisia de quem apóia uma agenda que, segundo ela, prejudica comunidades vulneráveis. Outros, no entanto, acusaram-na de distorcer as escrituras e reforçaram a narrativa de que o apoio a Trump não interfere na fé cristã.
“Alguns até denunciaram minha licença de enfermagem à nossa Ordem Profissional, por causa do vídeo”, contou Hamilton ao HuffPost. “Como cristã, vejo isso como uma luta moral, não política. Não estou falando em nome de partido, mas de justiça e compaixão baseadas nos ensinamentos de Jesus.”
O cenário religioso polarizado nos EUA
Especialistas destacam que a controvérsia reflete uma divisão profunda no cristianismo estadunidense. O reverendo Brandan Robertson, autor de “Queer & Christian”, explica que a aliança entre o movimento religioso e a direita política foi consolidada ao longo de décadas, usando o cristianismo conservador como ferramenta de armazenamento de privilégios brancos e tradicionais. “MAGA é apenas a revelação desse desejo de poder há anos”, afirma.
Apesar de o presidente Donald Trump não ser visto como um devoto tradicional — sua principal base de apoio é composta por evangélicos brancos que o aprovam em taxas superiores a 70%, segundo pesquisas — ele se alia a líderes religiosos que justificam políticas de exclusão e até anti-imigratórias em nome da fé.
Vozes contra a apropriação de Cristo
Líderes religiosos progressistas condenam essa narrativa. Mariann Edgar Budde, bispa episcopal de Washington, falou publicamente contra a instrumentalização da fé para defender agendas políticas de exclusão e violência. “Precisamos resgatar o verdadeiro Jesus, que se colocou do lado dos marginalizados”, afirmou.
Neste contexto, pastores e lideranças de várias denominações têm se esforçado para separar os ensinamentos de Jesus das ações de uma política que, segundo eles, viola princípios fundamentais do evangelho. “Estamos tentando despertar os fiéis para o amor, a justiça social e a acolhida”, reforça Robertson.
Esperança de um cristianismo renovado
Entre os fiéis que buscam uma leitura mais alinhada com os valores do evangelho, há esperança de uma mudança de postura. Carrie McKean, líder cristã e escritora, admite que muitos ainda se deixaram levar por interpretações distorcidas. No entanto, ela reforça que Jesus não veio para formar um reino deste mundo.
“Precisamos colocar nossa fé acima das nossas preferências políticas”, recomenda McKean. “Se cada cristão cultivar uma postura crítica, podemos criar coalizões que promovam o verdadeiro amor cristão, independentemente de partidos ou movimentos.”
Hamilton, por sua vez, expressa esperança ao perceber que seu vídeo tem ajudado pessoas a refletirem sobre suas próprias ações e valores. “Minha intenção nunca foi partidária, mas moral — de convidar as pessoas a refletir se seus suportes políticos realmente refletem o que Deus ensina”, concluiu.