O anúncio de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros pelos Estados Unidos acendeu o sinal de alerta no Porto de Santos, o principal complexo portuário do Brasil, que escoa 30% do comércio internacional do país. Com a medida prevista para começar a valer em 1º de agosto, os efeitos negativos nas exportações brasileiras já têm sido amplamente discutidos por especialistas e autoridades do setor. O Porto de Santos, que em 2024 já havia registrado a exportação de mais de 8,1 milhões de toneladas para os EUA, corre o risco de perder cargas significativas e, consequentemente, impactar a balança comercial brasileira.
Impacto nas exportações brasileiras
Os dados da Autoridade Portuária de Santos (APS) mostram que, em 2024, os EUA foram o segundo maior importador via Porto de Santos, totalizando R$ 12,8 bilhões em mercadorias. Isso representa 12,6% do total exportado, com destaque para produtos como café em grãos, suco de laranja, e carnes bovinas. O advogado Emanuel Pessoa projetou que a nova tarifa pode resultar em uma redução de até 25% no volume de exportações, o que se traduziria em perdas de cerca de US$ 3,3 bilhões até o final do ano.
Consequências econômicas e sociais
A nova tarifa não afeta apenas o fluxo de mercadorias, mas também pode impactar severamente a receita do Porto de Santos, que depende da movimentação de cargas para se manter financeiramente. Com uma receita média de 0,8% sobre o valor das cargas exportadas, a perda de volumes significativos pode ultrapassar US$ 26 milhões, cerca de R$ 145 milhões. Além disso, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que até 800 empregos diretos no Porto de Santos podem ser afetados, junto com mais 2 mil postos de trabalho indiretos nas áreas de logística e serviços.
Repercussões no transporte terrestre
A diminuição do volume de exportações também poderá afetar o transporte terrestre. Estados com alta produção, como São Paulo, Mato Grosso e Paraná, podem ver uma queda no transporte de fretes com destino a Santos entre 10% e 18%. Essa redução impacta especialmente transportadoras e cooperativas agrícolas, uma vez que muitos produtos agroindustriais e frigorificados seguem em rotas logísticas que dependem do Porto de Santos.
Preocupações do setor e possíveis alternativas
O mercado já manifesta preocupação com as possíveis consequências econômicas e sociais da nova medida. A Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop) destacou que qualquer alteração nas tarifas de importação gera repercussões diretas nas operações portuárias e na economia doméstica. José Augusto de Castro, presidente da AEB, classificou a nova taxa como uma das maiores impostas a um país no comércio internacional, enfatizando que tal medida pode criar uma imagem negativa do Brasil perante outros importadores em potencial.
Além disso, Arno Gleisner, diretor de Comércio Exterior da Cisbra, observou que a busca dos exportadores brasileiros por novos mercados já faz parte da rotina, mas nenhum outro destino possui a mesma capacidade do mercado americano. A tentativa de diversificação e a implementação de projetos, como o Nearshoring da Cisbra, que visa aumentar negócios com parceiros comerciais próximos, podem ser prejudicadas pela nova tarifa.
O futuro das exportações brasileiras
Com a taxa, os continentes de comércio internacional se tornam mais imprevisíveis, e as reações ao novo cenário econômico precisam ser adequadas para minimizar as perdas. Especialistas apontam que é essencial que o Brasil busque soluções para adequar suas relações comerciais, não apenas com os EUA, mas também com outras nações. O impacto da tarifa de 50% é significativo e poderá redesenhar o mapa das exportações brasileiras, desafiando o país a reinvestir em suas estratégias de comércio exterior.
Com uma abordagem cuidadosa e adaptativa, o Brasil poderá mitigar os efeitos adversos da medida e trabalhar para fortalecer sua posição no comércio global.