A imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, anunciada pelo governo americano, traz incertezas para diversos setores exportadores do Brasil. Com pouco mais de 10% das exportações destinadas ao mercado americano, o impacto, embora pequeno em percentual do PIB, pode ser significativo em setores dependentes dos EUA.
Tarifas afetam setores estratégicos do Brasil
De acordo com especialistas, a cadeia de exportação brasileira sofrerá variações dependendo da intensidade das tarifas. O setor de carnes, especialmente a bovina, enfrentará desafios diante do aumento de preços para os consumidores americanos e possíveis restrições comerciais. A CitrusBR informou que uma tarifa de 50% sobre o suco de laranja representaria um aumento de 533% no tributo, inviabilizando as vendas ao mercado norte-americano.
Impacto na carne bovina e café
A carne brasileira, que teve crescimento de 102% em receita de exportação aos EUA em 2024, pode sofrer com a elevação de custos. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) reforça que a dependência dos EUA, especialmente para o carne bovina, é relevante e pode levar à desorganização do setor e à interrupção de colheitas no Brasil.
Já no setor de café, o Brasil responde por cerca de 30% do consumo americano. A dependência dos EUA do café de origem brasileira faz com que o impacto das tarifas seja ainda mais evidente, elevando os preços para os consumidores norte-americanos e prejudicando a competitividade do produto brasileiro.
Impacto econômico e resposta do governo brasileiro
Especialistas avaliam que setores como siderurgia e aviação também serão duramente afetados. A Embraer, fabricante de aviões, terá cerca de 60% de suas vendas nos EUA sob risco, já que 55% de sua carteira de pedidos vem de clientes norte-americanos. A queda nas ações da Embraer chegou a 8,4% na manhã após o anúncio das tarifas, refletindo a preocupação no mercado.
O governo brasileiro analisa a possibilidade de responder às tarifas com medidas como a quebra de patentes, aguardando a efetividade das tarifas antes de agir, conforme afirmou o Ministério da Economia. Além disso, entidades de setores como mineração e papel e celulose prevêem possíveis impactos, mas com maior capacidade de mitigação, dada a diversificação de mercados.
Perspectivas futuras e incerteza
Analistas destacam que a relação de imposição de tarifas entre EUA e outros países tem sido marcada por vaivéns, gerando grande incerteza. Especialistas como Jeffrey Sachs criticam a medida, apontando que ela é motivada por uma postura política e não por fundamentos econômicos sólidos. A instabilidade dificultará o planejamento de empresas brasileiras, potencializando os riscos de retração no comércio.
Para setor de commodities, embora o impacto seja menor devido à baixa dependência do mercado americano, setores de bens de capital e produtos mais especializados, como aviões, sofrerão com tarifas elevadas ou potencialmente de 100%, inviabilizando negócios e pressionando preços.
O cenário reforça a necessidade de diálogo diplomático e de uma atuação firme do Brasil para preservar seus interesses comerciais e evitar danos maiores à economia do país.
Fonte: GLOBO – Impactos das tarifas americanas na exportação brasileira