Em um mergulho intrigante nas origens da yoga ocidental, Stewart Home, em seu livro Yoga fascista: Grifters, ocultistas, supremacistas brancos e a nova ordem no bem-estar, revela uma narrativa rica e muitas vezes perturbadora sobre como a prática se desvinculou de suas raízes indianas, refletindo não apenas transformações culturais, mas também um entrelaçamento inesperado com ideologias extremistas.
A história de Pierre Bernard e suas repercussões
A história começa com Pierre Bernard, uma figura enigmática que, em 1905, começou a ensinar uma versão da yoga que, segundo Home, era mais influenciada pela cultura física ocidental do que pela meditação oriental. Embora Bernard tenha alegado ter aprendido yoga com um guru indiano chamado Sylvais Hamati, Home levanta questionamentos sobre a veracidade dessa história, sugerindo que Hamati pode nunca ter existido.
Bernard, que originalmente se chamava Perry Baker, é uma figura cercada por mistério. A ausência de registros claros sobre seu passado levanta dúvidas sobre sua autenticidade como instrutor. Ele se autodenominou “o Grande Oom” e era conhecido por suas exibições extravasantes, incluindo uma demonstração de auto-hipnose em público, onde se submeteu a testes cirúrgicos sem anestesia, alegando ter sentido nenhuma dor.
Influências racistas e ideológicas
O livro aborda como Bernard cercou-se de indivíduos com visões racistas, incluindo um seguidor que escreveu que a yoga tinham raízes em uma suposta raça ariana que dominou a Índia. Essa abordagem não só deslegitimava as verdadeiras tradições indianas, mas também imbuía a prática de yoga de conotações raciais que continuaram a evoluir ao longo do século 20.
Um exemplo notável é a conexão entre a yoga e ideais fascistas que emergiram na Itália após a Primeira Guerra Mundial. No estado autoproclamado de Fiume, sob o comando do excêntrico Gabriele D’Annunzio, surgiu um grupo que se apropriou da yoga como um símbolo de sua ideologia, associando-a a uma estética ariana e a práticas ocultistas. O uso da suástica como um símbolo de ancestralidade ariana é um exemplo da distorção histórica que acompanha o desenvolvimento da yoga ocidental.
Yoga, fascismo e os desafios contemporâneos
O livro de Home não é apenas uma análise histórica, mas também uma crítica aos valores que permeiam a yoga contemporânea. O autor enfatiza que muitos instrutores de yoga frequentemente compartilham narrativas históricas enganosas sobre o que ensinam, refletindo uma mentalidade que pode se tornar vulnerável a ideologias regressivas.
Home faz uma associação entre a ênfase na pureza corporal e a prática da yoga, tanto entre os fascistas de Fiume quanto entre alguns grupos contemporâneos. A obsessão por limpeza e pureza se repete em certas narrativas modernas de yoga, frequentemente ligadas a teorias de conspiração e anti-vacinas, criando um ciclo de desinformação que se perpetua ao longo do tempo.
Conclusão: a yoga e suas complexidades
Ao final de Yoga fascista, Home traça um paralelo interessante entre os primórdios da yoga e suas práticas atuais, sugerindo que a conexão com ideologias extremistas ainda ecoa no mundo moderno. Embora a yoga em si não seja inerentemente fascista, as distorções e apropriações históricas mostram como práticas espirituais podem ser manipuladas por agendas ideológicas.
O livro oferece um olhar provocador sobre como a yoga, que muitos veem como uma busca de autoconhecimento e bem-estar, pode ter origens mais complicadas e controversas do que se imagina, levantando questionamentos sobre travessias culturais e apropriações ao longo da história.
Yoga fascista: Grifters, ocultistas, supremacistas brancos e a nova ordem no bem-estar de Stewart Home (Pluto £14.99 pp224). Para encomendar uma cópia, visite timesbookshop.co.uk. Frete padrão grátis no Reino Unido para pedidos acima de £25. Desconto especial disponível para membros do Times+.