Os setores da economia brasileira que exportam para os Estados Unidos criticaram a decisão do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada por Donald Trump, tem provocado apreensão em setores como carne bovina, café e suco de laranja, com análises apontando possíveis impactos negativos na competitividade e na manutenção das vendas ao mercado americano.
Impactos das tarifas sobre setores estratégicos brasileiros
Representantes do setor de carne bovina, por exemplo, afirmaram que a tarifa aumenta a insegurança e pode levar à interrupção de colheitas e à desorganização do fluxo das fábricas, resultando em prejuízos econômicos e perda de empregos. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) destacou que questões geopolíticas não devem se transformar em barreiras ao abastecimento global e à segurança alimentar, defendendo a continuidade do comércio internacional.
Repercussões na exportação de carne bovina
Dados da entidade revelam que, entre janeiro e junho, as exportações de carne bovina ao mercado dos EUA cresceram 102% em receita e 112,6% em volume em relação ao mesmo período do ano passado. Contudo, a possibilidade de aumento de tarifas pode retirar os Estados Unidos do quadro de principais destinos, considerando que o país respondeu por 12,33% das exportações brasileiras de carne no primeiro semestre, com receita de US$ 1,04 bilhão.
Suco de laranja e o aumento de tributos
O setor de suco de laranja, representado pela CitrusBR, informou que a tarifa de 50% elevaria em mais de 533% os tributos atuais sobre o produto. Com uma base de exportação que, em 2024/25, atingiu US$ 1,31 bilhão em faturamento, a entidade explica que a medida inviabilizaria as exportações devido ao aumento de custos, além de prejudicar toda a cadeia produtiva.
A CitrusBR afirma que uma tarifa dessa magnitude faria com que cerca de 72% do valor do produto passasse a ser recolhido em tributos, prejudicando a competitividade brasileira perante o mercado americano. “Esta condição é insustentável para o setor”, diz a entidade, ressaltando ainda que a medida pode afetar empresas americanas que dependem do suco de laranja brasileiro.
Conseqüências econômicas e diplomáticas
Além dos impactos econômicos, a questão geopolítica também ganhou destaque, com o governo brasileiro cogitando responder às tarifas com medidas de retaliação, como a quebra de patentes. Segundo fontes próximas ao governo, o Brasil avalia a possibilidade de adotar ações para proteger seus interesses comerciais e de evitar uma escalada de tensões.
Especialistas alertam para a ameaça à segurança alimentar global, uma vez que uma desaceleração nas exportações brasileiras de alimentos básicos pode afetar toda a cadeia produtiva e gerar aumento de preços no mercado interno brasileiro, além de prejudicar o relacionamento diplomático bilateral.
Outros setores afetados e próximos passos
O setor de café também sofre com as medidas de Trump. A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) afirmou que a maior parte da produção é destinada ao mercado externo, sobretudo aos EUA, com o Brasil sendo responsável por cerca de 30% do café consumido lá. O impacto potencial pode elevar custos e reduzir a competitividade do produto brasileiro.
Empresas como a Embraer, que exportam jatos executivos para os EUA, também estão na mira das consequências dessa política tarifária. Dados do setor indicam que aproximadamente 60% das vendas da fabricante no mercado norte-americano podem ser afetados, agravando o cenário de incertezas.
O governo brasileiro acompanha a situação de perto e prepara medidas para mitigar os efeitos da tarifa. Segundo fontes oficiais, negociações diplomáticas estão em andamento para tentar reverter ou reduzir o impacto dessas ações americanas.
Mais detalhes sobre as possíveis reações do Brasil podem ser acompanhados na próxima semana, quando o governo deve anunciar formalmente as respostas às tarifas de Trump, buscando equilibrar defesa comercial e manutenção das exportações brasileiras.
Fonte: O Globo